"O saudosismo vai matar o Santos": CEO faz duras críticas e cobra modernização do clube

Pedro Martins dá entrevista na Vila Belmiro no dia seguinte à demissão do técnico Pedro Caixinha; expectativa era anúncio do novo treinador, mas ele negou logo no começo

| GLOBOESPORTE.COM / ANA CANHEDO, BRUNO GUTIERREZ E GABRIEL OLIVEIRA


O CEO do Santos, Pedro Martins, abriu a entrevista coletiva marcada para esta terça-feira avisando de cara que não anunciaria o nome do novo treinador para o lugar do demitido Pedro Caixinha e fazendo um discurso pregando profissionalização e modernização interna, no qual chegou a dizer que o saudosismo mataria o clube.

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— O Santos é um clube que precisa ter muito orgulho do seu passado, muito mesmo, é o que está moldando a identidade desta instituição, mas precisa saber diferenciar orgulho do passado de saudosismo. O saudosismo vai matar o Santos — declarou o executivo.

— O orgulho do passado precisa pavimentar o caminho para o futuro desta instituição. O caminho do futuro do Santos está na busca de um novo estádio, na reconstrução da sua infraestrutura, na formatação de uma categoria de base que seja protagonista no futebol brasileiro, nos esforços que precisam acontecer para que a equipe feminina volte a representar o valor histórico do Santos.

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Em um balanço dos seus 100 dias no cargo, o CEO disse que chegou ao Peixe no início do ano para fazer o clube se reestruturar e ser competitivo em várias temporadas, e não apenas para montar a equipe vencedora deste ano.

— Sei que é muito mais confortável, a gente vai ficar aqui falando de quem é o próximo treinador do Santos ou quem são os jogadores que o Santos vai contratar. Mas eu prefiro, hoje, tratar do problema crônico, e não do agudo. O problema o crônico é o que nós vamos fazer para que o Santos seja um clube que forme equipes vencedoras todos os anos, e não o que a gente vai fazer para ter uma equipe vencedora somente este ano. Uma diferença gigantesca.

O CEO chamou a atenção para as dificuldades financeiras vividas pelo Santos e citou a baixa arrecadação com bilheteria em jogos como um dos gargalos.

— Dentro da tabela de classificação, com o que o Santos fatura, o Santos não está entre as principais equipes do futebol brasileiro. Muito pelo contrário. Está longe disso.

— Quando pega o Santos perante os seus competidores, em estrutura de receita, a gente quase que abre mão de alguns pilares fundamentais. E o dia de jogo é um deles. Se a gente não lidar com os problemas crônicos desta instituição, a gente vai ficar olhando para os problemas agudos e reclamando deles.

Pedro defendeu que é necessário tomar "decisões díficeis e duras" para que, no futuro, o clube possa se orgulhar das equipes que montar.

— Caso contrário, a gente vai continuar em um ciclo vicioso de vender o futuro para tentar conquistar alguma coisa no presente. Eu estou falando tudo isso com a consciência de que o presidente Marcelo Teixeira sabe das dificuldades que a gente vai ter que percorrer durante esse tempo. Ele voltou sabendo disso e compartilha dessa visão de que precisamos melhorar, profissionalizar o Santos e modernizar o nosso dia a dia.

O CEO destacou que a indústria do futebol brasileiro evoluiu muito nos últimos cinco anos, e o Santos ficou para trás.

— Se você não fizer uma reflexão e uma análise crítica, você cai no erro de achar que futebol é apenas escolher treinador e jogador. Para o Santos ser competitivo, para que essa reconstrução do Santos seja definitiva, não acreditem que apenas com a escolha de jogador e treinador, nós vamos voltar a ser multicampeão. Não vamos.

— Este clube parou no tempo, e a gente tinha compreensão de que, depois do acesso, as coisas voltariam ao normal. Para que a gente consiga fazer o Santos campeão, a gente precisa entender o que fez com que o Santos caísse, por que o Santos caiu de divisão, o que aconteceu com a instituição. Um clube deste tamanho não cai de divisão à toa.

Pedro disse que, depois de 100 dias como CEO, houve evoluções, mas que ainda há "travas institucionais" que impedem que sejam tomadas "decisões duras".

Ele sustentou que, na reestruturação que o Santos precisa, haja humildade.

— Tem muito clube fazendo melhor, investindo mais, estando mais organizado. O primeiro ponto para a gente fazer diagnóstico e dar remédio correto para o paciente é a humildade. Somente assim a gente vai conseguir ser grande.

— Seria muito mais confortável vir aqui e falar que o Santos é um clube gigante e que a gente vai fazer o que for necessário para ganhar os próximos jogos — complementou o executivo, no trecho final de seu discurso.

Perguntado a que se referia quando falava de "travas institucionais", Pedro respondeu que se tratam de "travas culturais", também sem especificá-las.

— É o famoso 'aqui sempre foi feito assim'. Este é o grande embate que a gente tem com a mudança de cultura. Mudar cultura de uma organização não é fácil, nem simples. Mas, se o Santos quiser ser competitivo perante os outros clubes, olhando o que os outros clubes estão fazendo, analisando não só a capacidade de investimento, mas a maneira com que eles trabalham, a gente precisa mudar a cultura.

Demissão de Caixinha

O executivo alegou que a saída de Pedro Caixinha, demitido depois do péssimo início no Campeonato Brasileiro, é uma "derrota para todos nós". Foi o CEO do Santos quem trouxe o português e bancou a contratação dele, no início do ano.

— A saída do Caixinha é uma derrota para todos nós, é um passo atrás com relação ao que a gente pensa de projeto desportivo para esta instituição. E, por isso, a gente vai tomar o tempo necessário para escolher o novo comandante.

— Caixinha foi muito importante para que o Santos começasse a se preparar para o que é o nível de exigência da Série A. Obviamente ele não ficou no Santos por resultado. E, na minha avaliação, quando o critério é esse, sendo que da porta para dentro, enxergamos uma série de evoluções, a derrota é de todos. Uma demissão de treinador no Santos é uma derrota para a instituição.

— Se a gente quer modificar essa cultura, que é tão ruim, de se colocar cabeça do treinador a prêmio na primeira sequência de insucessos, precisamos todos nós, diretoria, atletas e funcionários, colocar a mão na consciência e entender o que fizemos de errado para que o Caixinha pudesse ser demitido, porque, da porta para dentro, teve muita evolução.

Perguntado se era contra a demissão de Caixinha, o CEO respondeu que participou do processo de decisão e afirmou que não pensou em deixar o clube por causa da saída do treinador.

— O clube não pode normalizar processo de demissão de treinador. Se a gente achar que é normal toda hora que a gente tiver três insucessos a gente tem que trocar o treinador, tem alguma coisa muito errada dentro do clube, não pode ser normal. É um fracasso para todos do Santos.

Pedro ainda disse que a demissão de Caixinha "tem a participação de muita gente, que está dentro do clube", sem especificar a quem se referia.

— Este elenco do Santos, apesar de toda essa reestruturação, é competitivo. Este elenco tem toda a competência e a capacidade de fazer uma grande temporada. Existe uma diferença entre analisar os grandes problemas desta instituição, que precisam ser corrigidos, mas o ponto emergencial é fazer o elenco jogar da maneira que pode. Este time pode render muito mais, e os jogadores sabem disso. Eles precisam também assumir a responsabilidade deles.

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