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Raphinha recebe holofotes e assume protagonismo na Seleção: "Temos que entregar resultados"
Absoluto no time de Dorival, camisa 11 conta bastidores da virada na carreira em temporada com 50 participações em gol e destaque que o coloca como candidato à Bola de Ouro
| GLOBOESPORTE.COM / CAHê MOTA
Uma temporada gigantesca. Não é exagero usar superlativos para definir o que Raphinha tem feito com a camisa do Barcelona.
Com 50 participações em gols (30 gols + 20 assistências), o atacante chega para Data Fifa de março com o reconhecimento que também é merecido com a camisa da Seleção. Artilheiro da equipe nas eliminatórias, com quatro gols, o camisa 11 bate no peito e assume a responsabilidade de conduzir a equipe ao rumo para Copa de 2026 a partir das 21h45 (de Brasília), desta quinta-feira, diante da Colômbia.
A fala pausada que carrega ainda o sotaque gaúcho do bairro da Restinga, em Porto Alegre, vem acompanhada agora de um sorriso mais solto e também de consciência da responsabilidade. Raphinha sabe que é o cara do momento em uma Seleção que conta com nome dos amigos dos amigos e rivais de Real Madrid, Vini e Rodrygo, e dá o recado sobre o sentimento para o confronto com os colombianos.
"Obviamente, queremos entregar um grande trabalho, mas estamos em uma fase em que precisamos entregar resultados. Acho que é o mais importante. Estamos em um momento onde não importa entregar um grande jogo e perder. Futebol é resultado e não importa a maneira que jogou"
- Você conseguir os três pontos em um jogo que está precisando é o mais importante. Estamos neste momento, estamos buscando nos encontrar na nossa melhor versão. Ainda não estamos na nossa melhor versão, mas estamos buscando. O mais importante neste momento é ganhar independentemente de qualquer coisa.
Titular indiscutível do time de Dorival Júnior, Raphinha pisará no gramado do Mané Garrincha aclamado pelo torcedor brasiliense. Nem sempre foi assim, ele sabe disso e desfruta do reconhecimento em uma trajetória mais árdua para quem sequer jogou profissionalmente no Brasil e passou por Portugal, França e Inglaterra antes de se tornar candidato à Bola de Ouro na Espanha.
- É normal quando você sai do Brasil novo e não tem uma passagem por qualquer time que seja. Você não tem uma temporada inteira e acaba não tendo a conexão não só com o torcedor brasileiro. Quando você joga um Brasileirão, a própria torcida do seu clube e outras enxergam o seu trabalho. É um processo natural. Eu tinha um objetivo lá no início, que era fazer uma carreira na Europa. Tenho o objetivo de jogar profissionalmente no Brasil e isso vai acontecer depois ou não, mas eu tenho em mente. Quando tive a oportunidade de ir para Europa, não pensei duas vezes. Era o que eu queria. Eu sabia que teria que conquistar não só eles (europeus), mas também o povo brasileiro. E a maneira que tenho trabalhado e me entregado, o pessoal começa a reconhecer. É assim com todo mundo. Trabalhar, mostrar que está ali pela camisa que você veste, a galera começa a reconhecer.
A temporada de protagonismo em um elenco que conta com nomes do quilate de Lewandowski e Lamine Yamal é fruto das escolhas de Raphinha ao se deparar com uma encruzilhada após a Copa América: sair ou permanecer na Catalunha? Um papo franco com o técnico alemão Hansi Flick pesou na insistência de seguir no Barcelona e transformou a carreira deste gaúcho de 28 anos.
"Meu pós-Copa América foi bem conturbado. A cada dia saia uma notícia que eu ia para um lado, para o outro, e eu também estava cogitando sair do Barcelona por ser algo que eu não me sentia bem pessoalmente"
- As coisas não davam certo, eu vim de uma temporada abaixo do que eu poderia entregar e ver as pessoas pedindo para ir embora, que não servia para o clube, a cada dia uma notícia de que você sairia. Eu acabei cogitando isso. Depois da Copa América, o Hansi ligou para mim e falou para eu me apresentar para treinar antes de tomar qualquer decisão, que ele queria conversar e contava comigo. Esse foi um ponto importante na decisão de ficar. Conversando com a minha espoa, falei para ela que se ele fosse um cara justo e visse os jogadores pela entrega nos treinos, eu daria uma semana para ele gostar de mim como jogador e que ele não se arrependeria disso. Acho que deu certo.
A volta por cima vem acompanhada de todo um trabalho também fora de campo. Além de ter começado trabalhos de análise tática com a empresa Performa Sports, Raphinha passou a dedicar cuidados ao lado psicológico que abriram sua mente.
"A parte mental é ainda mais importante do que propriamente cuidar só do corpo. Se a cabeça não está bem, o corpo não responde da maneira que tem que responder. No meio da temporada passada, depois da minha lesão, eu intensifiquei meu trabalho mental com psicólogo e tudo isso"
- Foi algo que me ajudou bastante e me fez entender o meu lugar. Não só no futebol, mas na vida, como homem, como pai, como marido. Acho que é algo muito mais importante do que cuidar só do corpo.
Com mente sã e corpo são, Raphinha é a esperança do Brasil de Dorival Júnior nesta quinta, às 21h45 (de Brasília), diante da Colômbia, no Mané Garrincha, no Distrito Federal. Com 18 pontos, a Seleção ocupa a quinta colocação nas eliminatórias para a Copa de 2026 e enfrentará ainda a Argentina, terça-feira, em Buenos Aires.
Confira a íntegra da entrevista
Temporada impressionante
Acho que tudo é um conjunto. Se o time não está bem, não tem como o individual aparece. Isso é um fato. Desde o começo, temos feito uma temporada boa e os individuais acabam aparecendo, não só eu como outros jogadores do Barcelona estão se destacando. Mas o mais importante é o time, esse é o fator mais importante. Assim, automaticamente o individual aparece.
Protagonista em elenco com estrelas
Acho que fui feliz em participar de um time como esse, um elenco como esse. São jogadores espetaculares e com toda chance de brigar por coisa muito grande por muitos anos. São jogadores novos que parecem ter a experiência de quem joga futebol há dez anos. Tem muito para dar ao futebol por muito tempo, fazer parte disso é gratificante e me destacar entre eles é algo que me deixa muito feliz. De alguma maneira, tento ajudar para que o time saia com resultados positivos.
Adaptação a nova função
Particularmente, prefiro estar dentro de campo independentemente da posição. Procuro me adapta a qualquer função desde que esteja dentro de campo ajudando, para mim é indiferente. De repente, no início da temporada passada eu não estava com essa mentalidade e estava focado em jogar na minha posição. Achava que se não fosse ali, não conseguiria jogar, mas consegui abrir a mente para novos desafios. Não diria me adaptar, mas readaptar. No início da carreira, eu jogava mais pelo lado esquerdo e em algum momento acabei trocando para o direito e gostando. Mas entendi que me readaptar seria importante para carreira.
Relação com Rodrygo e Vini
Todo mundo sabe a qualidade individual de todos os jogadores da Seleção. Estamos muito bem servidos de atletas e poder dividir o campo com eles é muito satisfatório. Afinal, queremos dividir o campo com bons jogadores, queremos jogar com os melhores para poder entregar o melhor. São jogadores com características de mudar de posição e isso em algum momento acaba atrapalhando os adversários. Temos essa facilidade. Dividir o campo com eles a meu favor é muito melhor do que contra.
Pressão por resultados
Sabemos que vamos ter dois jogos bem complicados. São jogos em que precisamos dos resultados e estamos em um momento da temporada bem adaptados. Não é início de temporada, quando precisa de adaptação física e tática. Já estamos com o professor há um bom tempo e temos entendimento do que ele quer que a gente faça em campo. São jogos que tem tudo para dar certo e depende da gente. Há pontos em que temos que melhorar, mas acho que estamos no caminho certo para grandes resultados.
Protagonismo na Seleção
Eu sou um cara que odeia perder. Não gosto de perder no futebol, no vídeo game, em casa... Sei lá, é um sentimento ruim que eu tenho e isso me fez chegar onde eu estou. Querer sempre mais, querer ganhar, querer evoluir... De uma maneira ou de outra, acaba que quem vem chegando observa isso. Assim como eu vi outros jogadores com a vontade de vencer, o sangue no olho, o sentimento ruim por não ganhar. A gente observa quando chega, vê os mais velhos, como se comportam. Sei que de alguma maneira sou espelho para alguns e tento que eles olhem para mim e vejam algo positivo. Essa vontade de querer mais, de evoluir, de adaptar e ganhar. A vontade de vencer é o mais importante no futebol. Se você sai feliz de um jogo onde perdeu ou empatou, você não sente o futebol como tem que sentir.
Bola de ouro
Eu tento não focar nisso. Eu tento fazer o que fazia quando iniciei a temporada com foco e objetivos. Tento manter esse foco, esse objetivo... Obviamente, eu tenho meus objetivos pessoais, tento cumprir eles e, sendo bem sincero, Bola de Ouro não era um objetivo pessoal. Esses objetivos são gols, assistências, conquista de títulos pelo Barcelona, pela Seleção. Quando as coisas vão bem no clube e na Seleção, é natural o individual se destacar. O fato de eu ser nomeado como um dos favoritos na Bola de Ouro já é uma vitória depois de tudo o que passei na minha carreira. Só de estar lá já é uma vitória. É algo que eu tento não focar, foco no futebol. Jogo após jogo, treino após treino.
Dedicação fora de campo
Na minha carreira, já tive os dois lados da moeda. Tive o lado de não se cuidar nada e o lado do se cuidar muito. Agora, estou no lado em que me cuido muito. Vi o lado de não me cuidar nada e depois que passei a me cuidar percebi a importância de cuidar do corpo. Afinal, trabalho com isso. Tento passar para os mais novos, o Lamine, o Pedro, o Gavi, os meninos mais novos, que o se cuidar não é uma bobagem, ainda mais no futebol de hoje em dia que exige muito. São temporadas de 70 jogos, você tem que cuidar do seu corpo, evitar o risco de lesão, cuidar do sono, da alimentação... Afinal, é o seu trabalho. Se você não cuidar da peça mais importante deste trabalho, que é o seu corpo, as coisas não vão acontecer como tu quer. É algo que eu coloquei na cabeça mais cedo, acho que quando estava na França, e é algo que me ajuda muito.
Jovens da Seleção
Eles são bem focados. Conversamos bastante e, por exemplo, depois do treino gostamos de fazer banheira de gelo, essas coisas e vejo os meninos fazendo. Não sei se é porque viram os mais velhos, porque pesquisaram, mas são meninos que estão bem focados e isso é muito importante não só para eles, mas para gente também.
Pressão por vitórias
Se a gente ganha esses dois jogos, já muda não só na tabela, praticamente pulando para a segunda posição, mas a nível de confiança. Nós, jogadores, staff, o professor, toda a galera... Para confiança do torcedor é importante essa vitória.