Esportes
Os Jogos delas: mulheres têm chances de ganhar 15 das 22 medalhas projetadas para o Brasil
Nas Olimpíadas da equidade, brasileiras lideram os prognósticos para o país: veja quem são as atletas com mais possibilidade de pódio e relembre as conquistas femininas em edições passadas
| GLOBOESPORTE.COM / REDAçãO DO GE
Nas primeiras Olimpíadas da Era Moderna, em 1896, em Atenas, a grega Stamata Revithi completou a maratona no dia seguinte da prova oficial, na qual só homens correram. Fez o percurso sozinha, em protesto à proibição da participação feminina. Em Paris 1900, as mulheres puderam participar, mas só em 1908 a participação feminina foi oficializada. Levou 128 anos desde a corrida solitária de Stamata Revithi para que finalmente, em Paris 2024, haja equidade de gênero. Este ano, veremos um número igual de mulheres e homens nas pistas, campos, quadras, com as 10.500 vagas totais sendo preenchidas por 5.250 homens e 5.250 mulheres. A delegação do Brasil, aliás, pela primeira vez terá mais mulheres do que homens: dos 277 atletas classificados em 39 modalidades, 153 são mulheres, 55% do número total. Foi uma caminhada longa, com direitos tendo que ser conquistados a cada edição até a 33ª, em Paris.
- Para mim é uma honra poder fazer parte dessa porcentagem de mulheres que vão estar nos Jogos. Para mostrar que a gente também tem talento, que a gente também é grande, que a gente pode conquistar nossos objetivos. Pela gente. Sem deixar que ninguém limite o nosso potencial. Independentemente do local em que você quer chegar, do que você almeja conquistar e ser ali dentro. Acho que representa isso, a gente não permitir que as pessoas limitem a gente dentro dos nossos locais de treinamento, de crescimento, de tudo – celebra a ginasta Rebeca Andrade.
Rebeca é dona de um ouro e uma prata olímpicos, duas das 37 medalhas conquistadas pelas mulheres do Brasil. Tudo começou em 1932, quando a nadadora brasileira Maria Lenk se tornou a primeira sul-americana em uma edição dos Jogos, em Los Angeles. Mas só em Atlanta 1996 vieram os primeiros pódios, incluindo o ouro de Jackie e Sandra no vôlei de praia. Em Paris, esse número vai aumentar bastante. A projeção é de que as brasileiras ganhem 15 das 22 medalhas esperadas para o país, segundo análise do jornalista Guilherme Costa.
- O número de medalhas do Brasil nos campeonatos mundiais de 2022 e 2023, nas mais variadas modalidades, mostra que as mulheres devem conquistar mais medalhas do que os homens nas Olimpíadas de Paris. E o grande motivo disso são os esportes carros-chefes, os esportes em que o Brasil deve conquistar mais medalhas, como o judô, e elas devem vir com as mulheres – explica.
Em Paris, a delegação brasileira vai até além do marco dos 50%. Dos 277 atletas do país classificados em 39 modalidades, 153 são mulheres, 55% do número total. Nos Jogos delas, há estrelas brasileiras iluminando as arenas, favoritas a ganhar medalhas e arrebatar corações. Como a ponteira Gabi, prata com a seleção de vôlei em 2021, que lembra que a luta não acabou.
- Conseguimos equilibrar na quantidade de atletas, mas também queremos ver mais mulheres em comissões técnicas, em cargos de liderança, organização etc. É um trabalho que precisa ser contínuo. E fazer parte disso tem um significado muito especial. Queremos avançar na visibilidade, no investimento, em tudo. Entendo que a realidade do vôlei não reflete o esporte no geral, então temos que estar atentas. Um esporte em equilíbrio significa também uma sociedade mais equilibrada, justa e inclusiva – defende Gabi.
As principais chances de medalhas para as mulheres do Brasil
A partir de resultados do último ciclo, o jornalista Guilherme Costa faz projeções semanais no Termômetro Olímpico do ge. Para Gui, o Brasil deve ganhar em torno de 22 medalhas, cinco delas de ouro. E das 22, 15 viriam das mulheres, encabeçadas pela ginasta Rebeca Andrade. É com base nessa análise que apontamos algumas mulheres e equipes femininas que têm grande chance de fazer parte desse grupo de medalhistas que brilharão na Cidade Luz.
- Por exemplo, no judô, um esporte com grande tradição, atualmente temos três mulheres favoritas a medalhas e nenhum homem. No vôlei de praia e de quadra, as mulheres são favoritas ao pódio e os homens, infelizmente, não, apesar de terem chances. No boxe, o Brasil tem como principal nome a Beatriz Ferreira. No skate, é a Rayssa Leal. Isso sem contar a ginástica artística, que tem a Rebeca Andrade como nome forte para ganhar quatro medalhas – avalia Guilherme.
Ginástica artística
Rebeca Andrade é dona de um ouro no salto e de uma prata no individual geral em Tóquio, mas quer mais. Está entre as favoritas a medalhas no solo e novamente no salto e no individual geral. Pode beliscar um pódio ainda na trave e no seu aparelho favorito, as barras assimétricas. Dependendo do quanto conquistar, poderá sair de Paris como a maior medalhista brasileira de todos os tempos entre homens e mulheres, ultrapassando as cinco medalhas dos velejadores Torben Grael e Robert Scheidt.
- Eu me sinto parte desse grupo (de mulheres) que não se deixou limitar e conseguiu correr atrás e conquistar o que gostaria de conquistar – diz Rebeca.
A ginasta é também o principal nome de uma seleção que vai em busca do primeiro pódio brasileiro por equipes, e que conta com a experiência de Jade Barbosa e com a graça de Flavia Saraiva, além de Júlia Soares e Lorrane dos Santos. Flavinha, por sinal, tem chances de pódio no solo e na trave.
Boxe
Beatriz Ferreira já tinha o título de campeã mundial de boxe de 2019 quando levou a prata olímpica para casa, em 2021, depois de perder por pontos para a irlandesa Kellie Harrington na categoria até 60kg do boxe, na final. No ano passado, Bia se tornou novamente campeã mundial de boxe amador, e este ano, em maio, ganhou também o título no profissional. O sonho agora é não deixar o ouro olímpico escapar dessa vez. Ela pode se tornar a primeira pugilista campeã profissional e dona de uma medalha de ouro na história da modalidade.
- É a primeira vez na história que tem um campeão mundial profissional que vai disputar os Jogos Olímpicos e que vai brigar por uma medalha olímpica. Eu gosto muito de fazer história, de mostrar que tem muitas coisas para conquistar, que tem muita coisa para acontecer e que a gente pode acreditar, a gente pode conquistar, a gente tem boxe para isso. Tem que ter vontade e disciplina e ir para cima – disse Bia, em entrevista ao ge.
Na categoria até 57 kg, Jucielen Romeu conquistou duas medalhas em etapas da Copa do Mundo de boxe, foi ouro nos Jogos Pan-Americanos do ano passado e será cabeça de chave nas Olimpíadas. Há chances ainda com Bárbara Santos, Carol Naka e Tatiana Chagas.
Skate
Prata em Tóquio aos 13 anos, Rayssa cresceu e sua performance no skate amadureceu nos últimos três anos. A menina de 1,50m deu lugar a uma adolescente de 1,60m capaz de manobras ainda mais incríveis do que as que mostrou em 2021. Naquela ocasião, ela realizou uma manobra chamada Smith de Back. Em Paris, a ideia é partir para o Flip Smith de Back, uma evolução da primeira, mais complexa e com mais cheiro de ouro.
Pâmela Rosa, de 24 anos, tem dois ouros nos X-Games e não deve ter suas chances descartadas em sua segunda participação olímpica. Chega para brigar.
Águas abertas
Será que o bicampeonato olímpico vem? Ana Marcela Cunha foi ouro em Tóquio e é dona de 17 medalhas em Campeonatos Mundiais. Precisou passar por uma cirurgia no ombro no fim de 2022 e passou boa parte de 2023 em recuperação. Foi quinta no Mundial de 2023 e quarta no de 2024. Mas em maio, mostrou que voltou à melhor forma e levou o ouro na etapa da Itália da Copa do Mundo. A prata ficou com Viviane Jungblut, o que também a credencia para entrar na briga.
Judô
Ouro na Rio 2016, Rafaela Silva não foi a Tóquio por causa de uma suspensão por doping. Voltou a lutar no fim de 2021 e tem enfileirado pódios do Circuito Mundial. Chega aos Jogos emocionada com a nova chance e por fazer parte de um momento histórico de equidade entre homens e mulheres.
- É muito importante, porque lá atrás as mulheres nem podiam participar dos Jogos Olímpicos, então saber que a gente tem o mesmo número de atletas no masculino e no feminino, que diversas chances de medalhas que o Brasil tem nos Jogos Olímpicos de Paris vêm das mulheres... Acredito que esse marco vai crescer ainda mais. Ganhamos muita visibilidade nas Olimpíadas do Rio. Com certeza esses ciclos que estão passando estão agregando ainda mais para gente crescer dentro do esporte brasileiro e mundial – diz Rafaela.
Em sua quarta participação olímpica, Mayra Aguiar chega a Paris com três bronzes no currículo e querendo mais. Com medalhas nos Mundiais de 2022 (prata) e 2023 (bronze), Beatriz Souza é outra esperança real de pódio.
Vôlei e vôlei de praia
O vôlei feminino foi prata em Tóquio e tem uma história de grandes títulos, como o bicampeonato olímpico em Pequim 2008 e Londres 2012. Uma seleção conhecida pela garra e por não desistir de nenhuma bola.
- Sem dúvidas essa é uma Olimpíada especial. Mesmo que tardiamente, atingimos essa equidade tão necessária também no mundo esportivo. É um marco que precisa ser celebrado, a gente precisa ter consciência dessas conquistas, desses avanços, porque eles não vieram naturalmente, vieram porque finalmente entendemos que isso é importante e com isso várias iniciativas vêm sendo feitas ao longo dos anos – comenta a capitã da seleção feminina de vôlei do Brasil, Gabi, medalhista de prata em Tóquio 2020 e novamente em busca do pódio este ano.
Na praia, Ana Patrícia e Duda terminaram 2023 como líderes do ranking mundial e com a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos. Há adversárias fortes, mas o ouro está na mira. E não dá para descartar Bárbara e Carol Solberg, que não são candidatas ao ouro, mas estão, sim, na briga por um lugar no pódio. O Brasil já tem sete medalhas no vôlei de praia feminino, histórico que exige respeito das adversárias.
Vela
Martine Grael e Kahena Kunze são as atuais bicampeãs olímpicas na classe 49erFX e mesmo não vivendo um bom momento, já mostraram que têm estrela olímpica e talento de sobra. Em Marseille, cidade que sediará as competições de vela, elas podem se tornar a primeira dupla com três medalhas de ouro na história da modalidade.
Surfe
Tatiana Weston-Webb ganhou uma nota 10 após surfar uma onda perfeita em Teahupoo em maio, pela etapa do Taiti da WSL Acabou eliminada nas semifinais, mas impressionou com um drop incrível e um tubo de tirar o fôlego. Tati parecia em casa nas perigosas e impactantes ondas tubulares de Teahupoo, na mesma praia que sediará as competições olímpicas de surfe.
Canoagem
Ana Sátila chega às suas quartas Olimpíadas em plena forma e disputando três categorias da canoagem slalom. Ocupando a segunda posição no ranking mundial do C1 (canoa individual) e a terceira do K1 (caiaque individual), pode agarrar a chance de ganhar sua primeira medalha olímpica. E vai chegar em Paris embalada pela recente conquista da medalha de prata no C1 na etapa da Polônia da Copa do Mundo da modalidade, competição que reuniu as principais atletas do planeta em junho.
Outras possibilidades
O conjunto da ginástica rítmica tem subido ao pódio em etapas de Copa do Mundo nesta temporada, numa evolução clara da técnica do Brasil na modalidade; Na esgrima, Nathalie Moellhousen é a atual quinta colocada no ranking mundial;O taekwondo tem mais de uma atleta em boa fase, especialmente Caroline Santos, a Juma, e a jovem Maria Clara Pacheco;Mesmo caso da marcha atlética, do atletismo, com Erica Sena e Viviane Lyra;No wrestling, Giulia Penalber é a atual campeã dos Jogos Pan-Americanos; Laura Amaro foi quinta colocada no Mundial do ano passado de levantamento de peso;O futebol feminino tem duas pratas olímpicas e vai a Paris com Marta liderando a equipe provavelmente pela última vez em Olimpíadas;E quem sabe o tênis surpreende de novo? Se Laura Pigossi e Luisa Stefani trouxeram para o Brasil a medalha mais inesperada de Tóquio, um bronze celebradíssimo, por que não apostar em Bia Haddad, 20ª do mundo, no individual? Ou ainda nas duplas, ao lado de Luisa Stefani.
Retrospecto de medalhas do esporte feminino brasileiro:
Jogos Olímpicos de Tóquio - 2021
Ouro