Artilheiro do Bolívar começou com Léo Pereira e Léo Ortiz e vê equipe capaz de surpreender o Flamengo

Com quase uma participação direta em gol por jogo, Francisco da Costa se vê no seu auge, explica reação no sorteio e diz que em breve times terão outro fator para temer em La Paz fora a altitude

| GLOBOESPORTE.COM / FRED GOMES E THIAGO LIMA


Conheça Chico da Costa, atacante brasileiro que é artilheiro do Bolívar

O Flamengo entrou na Libertadores como favorito ao título, mas o melhor time após duas rodadas da fase de grupos é o Bolívar, com 100% de aproveitamento e cinco gols de saldo. E um dos grandes responsáveis por isso é um brasileiro: o centroavante Francisco da Costa, autor de três gols em dois jogos.

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Na fase de grupos, só Paulinho, do Atlético-MG, e Maxi Silvera, do Peñarol, fizeram a mesma quantidade de gols até aqui. Nesta quarta-feira, às 21h30 (de Brasília) no estádio Hernando Siles, na altitude de 3.600 metros de La Paz, o Bolívar aposta suas fichas no seu artilheiro para surpreender o Flamengo e colocar um pé nas oitavas de final.

Chico, como é conhecido pelos mais próximos, diz estar vivendo aos 28 anos a melhor fase de sua carreira, construída quase inteira fora do Brasil. Desde 2022 no clube, o atacante tem média de quase uma participação direta em gol por jogo: são 47 gols e 21 assistências em 70 partidas.

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Em entrevista exclusiva ao ge, Chico projetou o desafio de encarar o Flamengo, admitiu a vantagem da altitude, explicou o vídeo que viralizou da reação dos jogadores durante o sorteio e também a parceria do clube com o Grupo City, que vai render um estádio estilo caldeirão nos próximos anos. Além disso, ele fez um balanço da carreira, que curiosamente começou com Léo Pereira e Léo Ortiz; disse que já chegou a negociar com o Coritiba e vê com bons olhos voltar a jogar no Brasil no futuro.

Confira a entrevista:

Como está a mobilização da torcida e a sua para essa partida contra o Flamengo?

- Acho que não só da torcida, mas o entendimento geral aqui na cidade, no país, é que é realmente um jogo importante, onde somar três pontos é botar um pé nas oitavas de final. Então a mobilização é grande, jogo onde a motivação é mais alta. O Grupo entende a importância, está tomando o jogo como tem que ser tomado, respeitando o Flamengo que é um grande da América, mas com esperança, além de ser um bom jogo, que os três pontos fiquem com a gente.

Aumentou a responsabilidade de vocês depois da eliminação no Apertura?

- Foi um golpe um pouco emocional, que a gente não esperava. Um contexto um pouco complicado, arbitragem foi muito prejudicial para nós. Passados dois dias assim de luto, a nossa campanha era muito motivada pelo momento que a gente vem vivendo e cortar o campeonato local nas quartas de final foi complicado. Restou a Libertadores nesse semestre, não dá para desperdiçar esse começo tão bonito que a gente vem fazendo e agarrar essa motivação.

- Saber que hoje o Bolívar é o melhor time da Libertadores e esse começo foi um caminho importante para a classificação num grupo tão difícil, onde tem o Millonarios adaptado à altitude em Bogotá, Flamengo um dos melhores times da América e um time do Chile que passou pelas três instâncias da pré-Libertadores e vem motivado. Grupo está bastante motivado para esse jogo de quarta-feira.

Aqui no Brasil viralizou o vídeo de vocês no sorteio da Libertadores quando pegaram o Flamengo. Alguns comemoraram, mas você e o Bruno Sávio pareciam preocupados. Como foi aquele momento?

- A gente estava na minha casa acompanhando o sorteio, entre família. Na Libertadores não tem como escolher, principalmente no pote 1, que são os campeões basicamente, sempre times importantes, vivendo bons momentos. Se não fosse o Flamengo, quem seria? É difícil também pegar um Fluminense, um Palmeiras, o River no Monumental... Quando sai Flamengo, viralizou muito o Patito comemorando, e as pessoas sem entender o contexto. Eu li comentários dizendo: "Pobrezinhos, só porque vão para o Rio de Janeiro". Não é assim. Eu passei o ano novo no Rio, fico feliz de estar no cenário do Maracanã jogando contra o Flamengo. A vida de jogador é muito corrida, poucas vezes vou para casa, e quando tem oportunidade de ir ao Brasil rever amigos, familiares, é importante.

- O Patito mora em Florianópolis e ele gosta muito do Brasil também. Então foi mais essa comemoração do que outra coisa. Eu e Bruno lamentamos um pouco porque a gente entende que o Flamengo é uma potência, um dos favoritos. E na Libertadores pontuar fora ajuda bastante a encaminhar a classificação, principalmente na nossa campanha porque somos muito fortes como locais. Mas é muito difícil arrancar alguma pontuação do Flamengo no Maracanã. Vamos jogar com muita coragem, confiando no nosso jogo também, tentando surpreender no Maracanã, mas também fazer o nosso dever de casa quarta-feira.

Falando no Bruno Sávio, vocês são muito próximos, né? Ele vai jogar contra o Flamengo? Soube que ele perdeu a mãe e ficou fora do último jogo, quando vocês o homenagearam.

- Volta. O Bruno é um cara... A gente fez uma amizade muito grande aqui, acho que acolheu um ao outro, dois brasileiros morando em La Paz. E a gente se entendeu super bem dentro e fora de campo, hoje convive muito fora de campo. No futebol fiz muitas amizades e sem dúvida o Bruno é uma das mais fortes. É um irmão para mim realmente, cuidou de mim em muitos momentos, aconselhou da melhor maneira. Também sinto que sempre que ele precisou estive aí para ajudar. E é um momento difícil de falar porque o grupo aqui é muito unido e foi um assunto que tocou o vestiário, sabe?

- Eu fiquei bastante tocado. Esse guri é muito especial porque numa circunstância como essa voltar a treinar tão cedo, ser tão maduro para lidar com a situação e estar de volta aqui com a gente porque o grupo precisa dele, nos ajuda muito dentro de campo. Vejo ele muito melhor hoje, a mentalidade positiva de querer superar, entender que estar com a gente vai ajudar. Tema complicado, mas sei que quarta-feira ele vai estar com a cabeça 100% no jogo e vai ajudar a gente. Independentemente do que acontecer quarta-feira, virão coisas boas para ele porque ele merece.

O Bolívar ano passado chegou até as quartas de final da Libertadores. Esse ano acha que dá para ir mais longe? O time está mais forte do que ano passado?

- É importante sonhar. É muito difícil falar do Bolívar e concretizar, "a gente vai chegar". Temos que ter essa mentalidade, para chegar mais longe, para fazer história. Além de ser humilde, entender que há outros favoritos para chegar, mas temos totais condições de surpreender os demais. Para nós não seria uma surpresa. Eliminar o Athletico-PR ano passado nas oitavas de final, da maneira que foi os dois jogos, lembro como a gente se comportou, para mim não foi surpresa nenhuma. Foi uma coisa natural, respeitando o Athletico-PR. É importante sonhar em chegar longe, seria histórico para esse clube jogar uma final. Tem que sonhar com isso, mas primeiro é um grupo muito difícil onde temos que encaminhar a classificação, e a partir das oitavas, jogo a jogo, sonhar com coisa grande.

Você chegou ao clube no ano seguinte ao início da parceria com o Grupo City. Os jogadores contam o que mudou no clube?

- As pessoas não entendem bem o que acontece. O Bolívar não pertence ao Grupo City, não é um clube comprado pelo grupo. O Marcelo Claure, que é o presidente e também investidor, trabalha com o Grupo City. Se não me engano ele tem uma parte do Girona. Então é uma relação de duas mãos, o Marcelo ajuda e eles ajudam também, tem uma parceria aí. Todo esse crescimento do clube se deve ao investimento do Marcelo, de realmente querer que o futebol boliviano seja nos próximos anos revolucionário através do clube de coração dele.

- Para mim é uma honra fazer parte desse período histórico do clube, temos um CT totalmente novo; ano que vem, ano do centenário do clube, ou em 2026 vem aí uma arena exclusiva, fechada, fazer com que o ambiente seja apertado mesmo, aquele caldeirão, que além do fator altitude todo mundo vai ter medo de vir aqui. Eu me sinto privilegiado de estar aqui hoje e quero aproveitar esse passo aqui meu, que não sei até quando vai durar, para fazer história aqui.

A altitude de La Paz é sempre temida pelos times brasileiros. Você demorou a se adaptar à altitude?

- O processo foi difícil. Eu já tinha experimentado no México. As primeiras experiências são meio frustrantes porque realmente pesa. Aqui acho que é o lugar mais alto do mundo para jogar futebol, então é complicado. A gente sabe a vantagem que temos em relação a isso. Mas o fator climático existe em muitos lugares: calor, umidade, frio, neve... Vai jogar na Europa às vezes a temperatura é negativa; vai jogar no Brasil e às vezes faz 40 graus, é difícil. Aqui também tem o fator climático.

- Não é nenhuma hipocrisia, entendemos que o fator altitude é o mais difícil deles. O oxigênio é menor e consequentemente você cansa mais rápido. E quem está adaptado tem mais oxigenação, e isso é uma vantagem. A aclimatação aqui foi difícil o primeiro mês, por assim dizer, depois esquece. Você esquece que está na altitude e tem sua vida normal. É um fator fisiológico também, mas às vezes é muito emocional. E quando não consegue lidar com os dois é frustrante.

Você assistiu a algum jogo do Flamengo?

- Até brinquei hoje com os guris aqui: "Você viu o jogo? Prefiro nem ver". Gosto de focar mais no nosso. Principalmente aqui em La Paz, eu entendo que se impormos nosso ritmo é difícil, a gente é um time muito complicado de ser batido. Mas tem o departamento da parte de análise, nós vamos analisar os vídeos do Flamengo, como jogam. Eu, particularmente, em toda minha carreira, não sou muito fã. Entendo que é preciso ser feito, mas prefiro focar no que a gente tem que fazer do que no rival.

Você começou junto com o Léo pereira no Athletico-PR, né? E o Ortiz? Vi que se seguem nas redes sociais.

- Comecei com o Léo Pereira, ele é de 96, eu sou de 95. A gente dividiu o time sub-20, trabalhamos juntos. O Léo nessa época já era da seleção de base, sempre foi uma promessa e fico feliz por ele ter cumprido porque às vezes a categoria de base é uma ilusão. Ele realmente chegou, está num nível muito bom, fez um bom trabalho no Athletico, conseguiu concretizar as expectativas, e agora está no melhor momento dele, no meu entendimento. Fico feliz por ele, vai ser um reencontro.

- Também trabalhei com o Léo Ortiz, a gente jogou futsal em Porto Alegre dois anos, acho que 2006 e 2007. Conheci ele mais criança e também fico feliz por ele. (...) A gente se segue nas redes sociais, acompanha o que um e outro vem fazendo. De muito diálogo não, mas vai ser importante revê-los em campo, trocar uma ideia.

Você acabou não tendo espaço no Athletico-PR e construiu uma carreira quase toda no exterior. Se arrepende de não ter insistido no Brasil ou acha que fez o caminho certo?

- Quando eu escolhi sair do país eu não sabia o que estava fazendo. Tinha 21 anos, fui descobrir depois. Apareceu a oportunidade de trabalhar com um agente uruguaio, que é o meu agente até hoje. Fiquei bastante iludido com as coisas que ele me prometia, a maneira de trabalhar dele. Apertamos as mãos e fui para o México. Hoje eu entendo, e a galera não se dá conta, que o jogador brasileiro é sempre muito bom, muito especial, mas é pouco espaço para muitos jogadores. E o brasileiro não tem o costume de sair, culturalmente a gente é muito apegado a nossa terra, quer ser bem quisto em um time grande e ir para a Europa. Nessa mentalidade não tem espaço para todos.

- Eu tive uma boa passagem no Athletico-PR, chegou um momento onde estava jogando pelo São José e apareceu a oportunidade. Falei: "Entre remar aqui e buscar meu lugar ao sol, ou buscar oportunidades lá fora, sei que vou me destacar lá fora". Dito e feito. O México é uma liga importante, fui me destacando, crescendo como jogador, cheguei com 21 e estreei na Primeira Divisão pelo Querétaro com 25. E na minha posição de centroavante você acaba demorando um pouco mais para entender o jogo, para mim é a posição mais difícil dentro do campo. Tem que saber se movimentar, tem menos espaço, depende dos gols. Mas fiquei feliz de ter tomado essa decisão, tomei consciência depois.

Somando as duas passagens pelo Bolívar, são 47 gols e 21 assistências em 70 jogos, praticamente uma participação direta em gol por jogo. Acha que aí viveu e vive a melhor fase de sua carreira?

- Acho que sim, é a fase mais madura, emocionalemte falando também mais estável, onde realmente me sinto muito confortável dentro do clube. Torcedor sempre fala em identificação, é difícil jogador conquistar isso, ter total controle sobre as circunstâncias, sabe? Onde mora, com quem convive, entender o pensamento da cidade, do país... Sinto que aqui estou totalmente adaptado e identificado com o clube. Isso elve uma confiança diferente, mais alta. Devido a isso acho que é meu melhor momento e estou desfrutando dele. Não tinha a referência dos números, é uma boa média. Tenho a capacidade de seguir cumprindo aqui.

Você tem contrato aí no Bolívar até quando? Tem planos de voltar a jogar no Brasil um dia?

- Meu contrato aqui é até o final do ano que vem. A gente nunca sabe, na vida de jogador, do futuro. Vai levando, as ofertas vão chegando, a gente estuda, vê o que é melhor... Obviamente voltar para o Brasil seria bonito não só pelo alto nível que tem a liga, mas também estar perto de casa. Eu venho fora há bastante tempo, vejo as pessoas ao meu redor com famílias, filhos, e estar sempre longe de casa é complicado. Voltar para o Brasil então, além da parte futebolística, para o meu lado familiar seria importante. Sou um cara muito família, tenho muita saudade de Porto Alegre, dos amigos. Não sei onde eu vou estar, Brasil é uma possibilidade, mas importante é estar bem comigo mesmo e fico feliz com meu desempenho. Meu objetivo é a curto prazo sempre para ter mais foco.

Chegou a ter oportunidade de voltar ao longo desses anos?

- Eu tive bastante conversa com o Coritiba, até duas vezes: quando saí do Paraguai e antes de vir para cá também. Ano passado tivemos algumas conversas, especulações, mas coisa mais concreta seria com o Coritiba. Depois não chegou uma oferta na mesa para o Bolívar analisar e decidir meu futuro.



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