'Meu chefe me deixa determinar meu próprio salário'

| INFORMATIVOMS / BBC BRASIL


Cecilia Manduca trabalha em uma empresa em que cada funcionário decide seu próprio salário

A empresa em que Cecilia Manduca, de 25 anos, trabalha possui um 'processo de auto-avaliação de pagamento', em outras palavras: os trabalhadores decidem quanto devem receber por mês.

Recentemente, Manduca se concedeu um aumento salarial de 7 mil libras (cerca de R$ 35 mil), elevando seu salário anual para 37 mil libras (R$ 185 mil).

'Tive muitas dúvidas antes de pedir esse aumento', disse ela ao programa Wake Up To Money, da BBC Radio 5 Live.

'Tive que conversar com várias pessoas. Sabia que meu trabalho tinha mudado e estava ciente de que estava batendo as minhas metas. Eu sabia que, pensando racionalmente, merecia um salário mais alto. Mas eu tive muita dúvida e me senti meio gananciosa porque sempre há um estigma, uma sensação de que você deveria ficar feliz com o que tem.'

Por isso, antes de tomar qualquer atitude, Manduca achou melhor conversar com colegas de trabalho sobre o assunto. E eles confirmaram que ela realmente merecia o aumento.

A empresa em que trabalha, GrantTree, ajuda as empresas do Reino Unido a obter financiamento do governo. Todos os seus 45 funcionários estabelecem seu próprio salário, que pode ser revisado quantas vezes quiserem.

A auto-avaliação de salário é a última inovação entre empresas que competem pelos melhores talentos do mercado e querem mostrar que dão as melhores condições de emprego.

O processo exato varia de empresa para empresa.

O primeiro passo na GrantTree é reunir informações sobre quanto ganham profissionais em cargos parecidos em outras empresas, explicou Manduca ao Wake Up To Money, da BBC Radio 5 Live. A intenção é mostrar quanto a empresa gastaria para substituí-los.

Depois, analisam quanto a empresa pode pagar e avaliam quanto se desenvolveram desde a sua contratação.

'Com base nesses dados, você faz uma proposta que é avaliada pelos colegas', diz Cecilia.

'Isso é muito importante, porque seus colegas de trabalho não estão lá para dizer sim ou não ou para aprová-lo. Eles estão lá para fazer perguntas e dar feedback.

Depois dessa conversa, o funcionário pode refletir.

'O ponto chave é que ninguém precisa aprovar nada. Uma vez que você toma uma decisão, o salário passa a ser aquele', conta ela.

Cecilia diz que dois funcionários da GrantTree, na verdade, optaram por reduzir voluntariamente seus salários após mudanças nas suas funções.

A maioria das empresas com esquemas de pagamento por conta própria tem algum tipo de checagem, seja por meio da aprovação de colegas ou por um teto do valor total dos salários pagos.

O departamento de recursos humanos da empresa, o CIPD, disse à BBC que esse modo de trabalhar pode aumentar a transparência salarial.

No entanto, alertou que a estratégia também pode sair pela culatra sem uma implementação cuidadosa, assim como férias ilimitadas, que levam alguns funcionários a tirar menos tempo que antes.

Para Charles Towers-Clark, chefe da empresa de software Pod Group, o sistema parece funcionar sem problemas.

Seus 45 funcionários escolhem seus próprios salários há dois anos, levando a um aumento de 10% no valor total de salários pagos e a um grande aumento na permanência de funcionários.

Se alguém que trabalha no Pod Group quiser aumentar seu salário, eles dizem ao diretor de RH, que nomeia seis funcionários para avaliar o caso.

De vez em quando, funcionários pedem valores muito maiores que os salários pagos no mercado, ele admite.

'Não são pessoas gananciosas, é falta de experiência', diz ele.

'Uma pessoa relativamente jovem não compreendeu que o aumento salarial que estava pedindo era exagerado. Ela estava pedindo um aumento de 50% no seu salário, que era muito mais do que a sua função valia.'

'Foi uma decisão dela, mas eu disse: 'você pode tomá-la, mas você pode se tornar antieconômica ou não conseguir justificar esse valor, o que só vai levar a um final.''

'Ela reduziu o que estava pedindo depois disso.'

Tom Hardman é diretor de operações da Smarkets, onde 120 funcionários fixam seus próprios salários. Como o Pod Group, eles compartilham dados e informações da empresa com a equipe para garantir que os pedidos de salário sejam informados e razoáveis.

'Uma parte muito importante do processo salarial é garantir que os funcionários entendam os orçamentos necessários', explica ele.

'Portanto, como parte de qualquer processo salarial, precisamos saber quais são os recursos disponíveis, quanto dinheiro temos no banco e quanto podemos gastar. Desde que levamos as pessoas para participar dessa discussão, a tendência é achar que as pessoas são muito mais responsáveis quando recebem esse poder.'

Hoje, a tendência de permitir que os funcionários estabeleçam seus próprios salários acontece apenas em um punhado de empresas, principalmente no setor de tecnologia.

Mas, se virar um sucesso, pode se espalhar e ajudar a acabar com o tabu de falar sobre salário com colegas de trabalho.

Certamente para Cecilia esse método de escolher o salário transforma o relacionamento com seus colegas de trabalho, tornando-o mais aberto e menos contraditório.

'Os colegas que dão feedback garantem que você não está vendendo sua força de trabalho por menos do que ela merece e que está sendo remunerado por um valor justo. Isso realmente não acontece em uma empresa normal, onde você negocia seu salário e está tentando obter o máximo possível, enquanto o outro lado tenta te pagar o mínimo possível.'

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