Na mira do Centrão, Ricardo Salles agiu para se blindar no posto durante reforma ministerial

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobreviveu à primeira reforma ministerial do presidente Jair Bolsonaro

| INFORMATIVOMS / G1


Divulgação

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobreviveu à primeira reforma ministerial do presidente Jair Bolsonaro, e até mesmo adversários não veem chance de ele ser substituído no curto prazo. Ao contrário do ex-chanceler Ernesto Araújo, que não resistiu à ofensiva de parlamentares, Salles, diante da pressão do Centrão, agiu para se blindar no posto. Fugiu das polêmicas nas redes sociais, fortaleceu seu apoio no Congresso — sobretudo com a bancada ruralista — e tratou de se reaproximar de militares do governo. Na tentativa de reconstruir a imagem do Brasil no exterior, sinalizou ao governo dos Estados Unidos disposição de dialogar sobre a condução da política ambiental e tem realizado uma série de encontros com embaixadores.

A agenda do ministro do Meio Ambiente da última terça-feira ilustra bem o movimento que ele tem feito para se fortalecer. Começou o dia em seu gabinete com um café da manhã com o embaixador da Índia, Suresh Reddy, e encerrou com um jantar na embaixada do Reino Unido, com o embaixador Peter Wilson. Ao longo do dia, se reuniu com o deputado Neri Geller (PP-MT), relator da proposta que trata do licenciamento ambiental e vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, e com a deputada bolsonarista Aline Sleutjes (PSL-PR), presidente da Comissão de Agricultura. A agenda ainda registra uma videoconferência com a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber sobre o Fundo Amazônia, suspenso desde 2019, e uma entrevista ao jornal americano New York Times, que publica frequentemente críticas à política ambiental de Bolsonaro.

Encontro com doadores

Na semana passada, Salles também se encontrou com o ministro de Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen. Em 2019, a Noruega, principal doadora, e a Alemanha suspenderam os repasses para o Fundo Amazônia. Desde fevereiro, há registros de reuniões com embaixadores da Espanha, Japão, Alemanha, União Europeia e dos Estados Unidos, Todd Chapman.

Ainda sem apresentar resultados concretos da investida internacional, Salles, a interlocutores, tem usado os compromissos para argumentar que o Brasil não está isolado mundialmente.

O compromisso mais emblemático ocorreu no dia 17 de fevereiro quando conversou com o representante especial para o clima do governo dos EUA, John Kerry. Desde então, outras três reuniões ocorreram com o governo americano para discutir o clima, Amazônia e a Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26), que ocorrerá em Glasgow, na Escócia, em novembro. O ministro já confirmou que participará, junto com Bolsonaro, de cúpula virtual convocada para os dias 22 e 23 deste mês pelo presidente norte-americano, Joe Biden, para debater as mudanças climáticas.

Durante a eleição, Biden fez críticas à política ambiental de Bolsonaro e, em um debate, sinalizou que poderia retaliar o Brasil se o governo não tomar providência para reduzir o desmatamento da Amazônia, que atingiu seu maior patamar desde 2008. A área do Pantanal teve perda de 30% por causa das queimadas.

Salles tenta negociar uma parceira com os Estados Unidos em que o Brasil receba recursos para a criação de um novo fundo voltado para a preservação ambiental no país. Há uma expectativa de que, na cúpula climática organizada por Biden, os Estados Unidos anunciem uma parceria com o Brasil nesse sentido. O ministro está otimista que os americanos vão fechar o acordo, o que seria resultado de suas negociações, e a saída dele do cargo durante essas conversas poderia colocar a consolidação dessa parceira em xeque.

No entanto, a expectativa de Salles pode ser frustrada devido às pressões políticas internas nos Estados Unidos, que cobram o governo americano sobre o porquê de repassar verba para a gestão de Bolsonaro, que não tem compromisso ambiental.

O Ministério do Meio Ambiente terá este ano o menor orçamento desde 2000, com previsão de R$ 1,72 bilhão. No ano passado, o valor foi de R$ 2,67 bilhão. Deputados ligados ao tema apontam que os recursos vão inviabilizar ações de preservação do meio ambiente e até a manutenção de áreas de conservação.

— Se o Brasil não começar a ter resultados positivos, ele (Salles) não conseguirá se manter, disse o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), que presidiu a comissão de Meio Ambiente até o ano passado.



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