Conselho Indigenista Missionário patrocinou invasão de fazenda em MS

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Invasão à Fazenda do Inho, ocorrida no dia 6 de março deste ano, por indígenas da etnia guarni-kaiowá foi patrocinada pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário) – órgão ligado à Igreja Católica Apóstólica Romana, que bancou o fretamento de dois ônibus e ainda pagou R$ 20 mil pelas viagens.

De acordo com a reportagem publicada pelo jornal Correio do Estado, as notas fiscais estão em poder da Polícia Civil de Rio Brilhante, que investiga o esbulho possessório contra o produtor rural José Raul das Neves, de 83 anos, e seu filho José Raul das Neves Júnior.

A fazenda invadida pertence à família desde 1967 e nunca esteve até então nos documentos oficiais da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) como uma possível terra indígena, segundo José Raul Júnior, que administra a propriedade.

No inquérito o qual o site teve acesso, constam os depoimentos dos empresários das empresas de fretamento, bem como as notas fiscais de contratação das viagens.

A reportagem também revelou que o Conselho Indigenista Missionário pagou R$ 10 mil por viagem. Um dos ônibus, da empresa Anjos Transportes, saiu da cidade de Amambai, levando indígenas da aldeia da cidade.

O outro ônibus, da empresa SB, saiu de Dourados, levando indígenas guarani-kaiowá residentes nas cidades de Naviraí, Eldorado, Iguatemi, Amambai, Tacuru e Paranhos.

Exatamente um mês depois da invasão, o número de indígenas invasores é menor. O administrador da propriedade rural, José Raul das Neves Júnior, disse que nas semanas seguintes à invasão, os cerca de 80 indígenas voltaram para suas aldeias de origem. Ele, porém, continua sem poder utilizar a propriedade.

“Tive apenas três dias para colher a soja que tinha plantado no local. Consegui plantar aproximadamente 70 hectares de milho safrinha, mas não consigo entrar na propriedade para me dedicar à cultura', queixou-se.

Ainda conforme o Correio do Estado, José Raul Júnior também é dirigente do PT (Partido dos Trabalhadores) em Rio Brilhante e contou com o apoio de parlamentares, como o deputado estadual Zeca do PT e o deputado federal Vander Loubet, na mediação para que os indígenas desocupassem o local, mas sem sucesso.

Atualmente, ajuizou uma ação de reintegração de posse na Justiça Federal, em Dourados, que ainda não teve decisão tomada.

Sobre a propriedade

A Fazenda do Inho tem 392 hectares e é o único bem da família Neves. A área cultivável é de aproximadamente 250 hectares. Ela está localizada às margens da BR-163 e às margens do Rio Brilhante.

A propriedade vizinha, a Fazenda Santo Antônio da Esperança, está ocupada desde 2007, segundo informou José Raul Júnior.

A invasão

A primeira invasão da Fazenda do Inho ocorreu na madrugada do dia 3 de março. Na ocasião, porém, a Polícia Militar deteve três indígenas por esbulho possessório e expulsou parte dos invasores.

No entanto, na noite do dia 6 de março, os indígenas voltaram em maior número, por meio dos ônibus fretados das empresas de Dourados e Amambai. Eram praticamente 80 indígenas.

A invasão se consolidou e, até hoje, um grupo de indígenas guarani-kaiowá permanece no local. A produção na propriedade, que segundo o proprietário não consta em nenhum estudo antropológico recente, está inviabilizada.

Com base nos testemunhos de moradores da região, de fazendas vizinhas, os ônibus foram identificados, e, assim, a Polícia Civil chegou aos proprietários das empresas e às notas fiscais das viagens, que tiveram o Cimi, órgão da Igreja Católica, como contratante.

Contramão

Na contramão da investigação conduzida pela Polícia Civil de Rio Brilhante, o Correio do Estado apurou que a Polícia Federal investiga uma suposta pressão dos produtores rurais de Rio Brilhante para que os fretadores de ônibus dos indígenas revelassem o contratante. Ainda não há conclusão deste inquérito.

O fato é que o outro inquérito, que corre paralelamente, identificou que o Cimi foi quem bancou a viagem dos aproximadamente 80 indígenas que participaram da operação de ocupação da fazenda.

E, por falar em ocupação de fazenda, José Raul Júnior queixa-se da falta de acesso ao local que, por direito, lhe pertence.

“Até a ministra [dos Povos Indígenas] Sônia Guajajara entrou lá e dançou com os índios. Eu e meu pai, que herdou a fazenda do pai dele, que, por sua vez, comprou e tem um título legítimo desde 1967, não pôde entrar no evento, do qual participou uma ministra de Estado', lamentou.



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