Filé de 1kg, jogador de padel e reforma de Mustang: como é a vida de Abel Ferreira em São Paulo

Fomos visitar os locais mais frequentados pelo técnico do Palmeiras na capital paulista, onde coleciona elogios e tem rotina agitada com diversas atividades; veja os vídeos

| GLOBOESPORTE.COM / EMILIO BOTTA


Conheça o prato preferido de Abel Ferreira, do Palmeiras

A reportagem que você vai ler a partir de agora não tem nada a ver com o desempenho do técnico Abel Ferreira no comando do Palmeiras. Este Abel está bem distante daquele profissional obstinado, multicampeão, furioso com os árbitros nos jogos e de respostas atravessadas nas entrevistas.

É de conhecimento geral que o português prefere guardar para si os momentos longe do futebol. Nas redes sociais, raramente faz publicações sobre o que não seja referente ao dia a dia da profissão, mesmo depois de trazer a família para morar no Brasil.

– Preservo meu lado pessoal, vocês gostam de saber de tudo (risos). Quero que me julguem como treinador, se é ruim, é chato, é não sei o quê, ganha, perde. O que eu quero é esconder uma parte de mim que não quero que vocês saibam – afirmou Abel, há um mês, após um jogo contra o Bragantino, pelo Campeonato Paulista.

Com técnico avesso às entrevistas exclusivas e quase nunca disposto a falar sobre assuntos pessoais nas coletivas, o ge visitou nas últimas semanas pela cidade os locais preferidos do cidadão paulistano Abel Ferreira (sim, ele já recebeu esse título) para mostrar como vive um dos técnicos mais vencedores da história do Palmeiras. Uma rotina que inclui, entre outras atividades, o gosto por um bife especial de cerca de 1kg.

– Eu me sinto paulistano desde o primeiro dia que cheguei. Sempre me respeitaram de forma cordial e simpática – disse o treinador na época em que recebeu o título.

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Amante da gastronomia, Abel frequenta poucos restaurantes na capital paulista, mas coleciona amigos fora do futebol e no dia a dia na maior cidade do Brasil. Fã de Ayrton Senna, fez aulas de pilotagem e tem usado boa parte do seu tempo livre para a reforma de um Mustang. E ainda sobra espaço para jogar padel (nós vamos explicar que esporte é esse), visitar templo budista e até a cidade das flores no interior de São Paulo.

O que come?

A vivência de Abel Ferreira é intensa em São Paulo. O português gosta da vida agitada na maior cidade da América Latina. Morador da região próxima ao Centro de Treinamento do Palmeiras, na Barra Funda, o técnico fazia muitas coisas a pé nos primeiros meses no país.

Com o passar do tempo e a popularidade conquistada por ser um dos treinadores mais vitoriosos da história do Palmeiras, Abel passou a ser muito assediado por fãs e torcedores, inclusive de clubes rivais.

A rotina atual tem sido mais restrita a locais reservados, mas ainda assim bastante agitada quando o assunto é aproveitar ao máximo o que São Paulo oferece no dia a dia. Um dos principais passatempos de Abel em São Paulo é a alta gastronomia.

Abel gosta de massas frescas, peixes e também de cortes nobres de carnes. O ge visitou um dos restaurantes que o técnico do frequenta semanalmente e acompanhou o preparo do prato preferido dele (veja no vídeo abaixo).

O Braza, que fica localizado em um dos camarotes do Allianz Parque, oferece um cardápio focado na cozinha brasileira e com pratos autorais do chef Giovanni Renê, conhecido por ter vencido um reality show gastronômico.

– Ele (Abel) é um amor, um cara super sangue bom. Confesso que como chef de cozinha e admirador do trabalho dele dá um friozinho na barriga, mas a gente é confiante tanto nele quanto na nossa equipe, é sempre um prazer poder servi-lo aqui.

– A resenha com ele é sempre maneira, ele sempre pontua o que tá maneiro e o que pode melhorar, é um cara que sabe lidar muito com o ser humano, então sempre que ele vem aqui é um aprendizado diferente – disse o chef Giovanni Renê.

O prato preferido de Abel Ferreira é o Tomahawk Black Angus, um corte nobre bovino extraído do dianteiro do boi, entre a sexta e a décima costela. O prato é acompanhando por um mix de cogumelos, tomates e cachaça, finalizado com azeite de alho e cebolinha japonesa. Também são acompanhamentos vinagrete, farofa de alho e arroz com aluá, bebida fermentada de abacaxi.

Detalhes do prato preferido de Abel Ferreira:

Nome: Tomahawk Black AngusPeso da carne: 1,2 kg Acompanhamentos: Mix de cogumelos, vinagrete, farofa de alho e arroz com aluáPreço: R$ 378

Como não somos a favor do desperdício de comida – ainda mais com essa qualidade –, nós provamos o prato em nome do bom jornalismo. E como Abel Ferreira tem bom gosto! Uma carne suculenta e que fica ainda mais macia servida mal passada. Simplesmente derrete na boca, não é necessário muito esforço para cortá-la. Nunca havia provado uma carne tão boa, a não ser nos churrascos em família com meu saudoso pai (o que vai muito além de qualquer sabor).

Os acompanhamentos completam o prato, com um tempero marcante e combinações pouco comuns para uma carne assada, como cogumelos e o arroz aluá, um preparo fermentado adocicado e que deixa a gordura da carne menos aparente pela acidez do abacaxi.

A experiência é válida, desde que os quase R$ 400 estejam disponíveis para esse tipo de aventura. A realidade brasileira é outra.

Formigão

E um bom almoço precisa ser acompanhado de uma bela sobremesa. Abel é apaixonado por doces. Entre as preferências estão aqueles populares e facilmente encontrados no Brasil, como pudim de leite, cocada, pacoça e pé de moleque, o preferido da lista.

O português disse que admira desde sua infância na Europa as novelas brasileiras e que, depois de desembarcar na capital paulista, se encantou pelos doces do Brasil, a ponto de receber uma chamada de atenção da nutricionista.

– A comida é dez estrelas, os doces são nota 20. Sou maluco por doce, fiz alguns exames e minha nutricionista me pediu para cortar os doces. Estou mais magro, mas o doce brasileiro é maravilhoso – revelou Abel durante participação na Bienal do Livro de São Paulo, em julho do ano passado.

Os cafés de manhã e da tarde de Abel geralmente são acompanhados de bolos. Os prediletos do treinador são o de laranja e de fubá, que não é feito em Portugal e ele conheceu no Brasil. A tapioca doce com leite condensado e banana também faz parte do cardápio.

Padel: a terapia de Abel

Nos raros momentos de folga, Abel reúne toda a comissão técnica para a prática de um esporte pouco conhecido no Brasil: o padel. A paixão começou ainda na Grécia, nos tempos de PAOK, quando o treinador e os quatro auxiliares portugueses conheceram a modalidade que se parece com tênis.

De acordo com a agenda de jogos, Abel e os colegas de trabalho atravessam a avenida Marquês de São Vicente para praticar o esporte na Santo Padel, uma academia que fica dentro do complexo do Nacional Atlético Clube.

Muito popular na Europa, principalmente em Portugal, o jogo consiste em dificultar a devolução da bola pelo adversário, que precisa fazer com que ela quique no chão antes de tocar na parede ou tela de proteção do lado oposto. Semelhante ao tênis, pode ser praticado individualmente ou por duplas.

Quer saber mais sobre o padel e a academia onde Abel joga com a sua comissão técnica? Veja no vídeo acima as regras básicas do esporte e depoimentos de quem convive com o técnico português fora do ambiente do futebol.

Sem um juiz até nas disputas profissionais, o padel tem como característica o entendimento entre os jogadores. O auxilío de um árbitro acontece apenas em casos extremos e de dúvida dos praticantes na definição de um ponto, por exemplo. Não existe o risco de Abel se desentender com o juiz durante os jogos de padel.

– Eles jogam bem, o Abel joga tênis também, então eles têm facilidade por terem contato com esporte de raquete. Eu dou aulas para eles, têm algumas coisas para melhorar. Sempre sai jogo, eles têm um porte físico legal, são atletas, então acaba sempre saindo jogo com eles – disse Henrique de Oliveira Santos, instrutor de padel.

Abel ganhou* do Palmeiras uma quadra de padel, que está sendo construída no CT. O custo total gira em torno de R$ 150 mil.

A maior conquista de Abel e sua comissão foi a "conversão" do instrutor de padel. Henrique frequentava o Morumbi, sede do São Paulo, para praticar o esporte, mas nunca ligou para o futebol ou para um determinado time. Isso mudou com o presente dos portugueses, que deram uma camisa autografada e a chance de assistir a um jogo no Allianz Parque.

– Muito legal, o Abel é muito simpático, conversa com a gente, cumprimenta todo mundo. A comissão toda, eles são super simpáticos. Virei palmeirense, fui no último jogo deles com a camisa autografada pelo Abel, Tiago, Carlos, João e o Vítor. Não era palmeirense, virei palmeirense agora.

*O Palmeiras tem feito melhorias na Academia de Futebol visando proporcionar um ambiente mais aconchegante aos jogadores e funcionários. Sala de jogos, jardim de inverno, campo sintético, entre outros, são algumas das opções oferecidas de acordo com o gosto pessoal de cada atleta. A quadra de padel faz parte do projeto de melhorias feito pelo clube.

Paixão pelo automobilismo

A infância de Abel Ferreira foi marcada por uma acirrada disputa entre três dos maiores pilotos da história do automobilismo mundial. Ayrton Senna, Nelson Piquet e Alain Prost eram os principais nomes da Fórmula 1, uma das grandes paixões do ainda menino português.

Como em toda disputa, Abel escolheu um lado. Era torcedor fanático de Ayrton Senna, tricampeão mundial e que acabou morrendo em um acidente em 1994. As disputas não se limitavam às pistas. O pai de Abel, que compartilhava a paixão do filho, era torcedor de Piquet e Prost. Com isso, as manhãs de domingo eram agitadas na casa da família Ferreira em dias de prova da Fórmula 1.

A paixão de Abel por velocidade fez o treinador realizar alguns sonhos no Brasil. Ano passado, o treinador do Palmeiras esteve no box da McLaren após receber convite do piloto Lando Norris, que acompanhou um jogo do Verdão no Allianz Parque. Foi a segunda vez do treinador em um GP no Brasil. Em 2021, Abel também marcou presença em Interlagos.

O amor pela velocidade fez Abel participar de algumas aulas de pilotagem. Após um intensivo com pilotos profissionais, o treinador foi para a pista guiar um carro da Porsche Cup no início de 2022.

– Vou realizar um sonho, vi várias vezes em Interlagos as corridas de Fórmula 1 com meu pai na época do Ayrton Senna, mas nunca passou pela minha cabeça um dia poder estar conduzindo um carro na pista em um circuito mítico, tenho uma admiração pelo Senna desde garoto e porque sempre adorei carros.

– Meu pai era fã do Prost e eu era fã do Senna, lembro da corrida que ele ganhou em Interlagos fazendo as últimas voltas na terceira marcha, foi algo extraordinário, sigo ainda vendo os vídeos daquela volta espetacular do Senna – disse Abel, antes de pilotar o carro.

Um dos grandes projetos de Abel no Brasil, além de bater recorde de títulos pelo Palmeiras, é a reforma de um Mustang Fastback 1966. O carro, considerado um dos grandes clássicos dos automóveis, pode chegar ao valor de até R$ 500 mil. A intenção do treinador é levar o carro para a sua coleção pessoal em Portugal.

Abel também comprou outros dois carros no Brasil para reformar: um Corvette C4 e um Ford Thunderbird, ambos avaliados em cerca de R$ 200 mil cada.

A amizade com vários pilotos possibilita a Abel participar de algumas corridas particulares de kart, outra grande paixão do treinador. Pessoas ouvidas pelo ge que fazem parte dessa rotina garantem que a competitividade dentro de campo se mantém durante as brincadeiras. Todos, sem exceção, afirmam que o português é uma pessoa muito querida e divertida.

– Ele é um cara do cara***. Muito, muito legal mesmo. Seria legal mesmo se mais gente pudesse conhecê-lo de verdade, mas ele é muito reservado – disse uma das pessoas ouvidas pelo ge, que preferiu não se identificar.

Rolês aleatórios

Abel Ferreira mostra que tem criado raízes no Brasil, não apenas em São Paulo. Prova disso é que nas últimas férias o treinador escolheu a Bahia como um dos destinos. O treinador esteve com a família no estado a convite de João Paulo Sampaio, coordenador das categorias de base do Palmeiras.

O técnico também já visitou Holambra, município do interior de São Paulo que fica a cerca de 130 quilômetros da capital, conhecido pelo turismo e por ser a cidade das flores. Com forte colônia de holandeses, Holambra se destaca pela gastronomia baseada em flores, com pratos e doces que usam rosas e hibisco, entre outras espécies. Ao lado das filhas e da esposa, Abel conheceu o local e contratou até um fotógrafo para registar um ensaio em família.

– Na época não o reconheci, então ofereci meu trabalho e ele foi super educado e gentil (tanto ele quanto a família dele) – disse uma pessoa que teve contato com Abel em Holambra.

Outro momento em que Abel mostrou ser um amante do conhecimento de outras culturas foi a visita ao Templo Tenzuizenji, fundado pela Monja Coen. O treinador, aliás, é fã declarado dos ensinamentos e palavras dela nas redes sociais. Na visita, Abel meditou e recarregou as energias em busca de tranquilidade e controle da ansiedade.

– Eu não desisto de ninguém, acredito nos meus meninos. Se eles têm um projeto, deixo que eles desenvolvam. Não impeço ninguém de crescer, reconheço cada ser humano e por querer o bem exijo deles o máximo. Eu amo futebol – disse Abel no encontro com a Monja Coen.

– Tive o prazer de receber no templo que cuido o Abel Ferreira, a esposa e suas filhas. Foi um momento de muita alegria, considero o Abel um grande técnico de futebol e uma pessoa excelente. A razão do nosso encontro foi por conta da Bienal do Livro de São Paulo. Lembre-se, Abel, cabeça fria e coração quente. O seu coraçãozinho está fazendo você ficar com a cabeça quente, aí você dá chute nas coisas, fica bravo e xinga.

– O coração quente é importante, isso não é ruim, o fato de você ficar irritado e bravo está tudo bem, mas o que você faz com isso é que causa uma impressão meio estranha. Mas ao mesmo tempo, será que não é isso que faz com o time ame você? Pois você é como eles, você está defendendo eles – disse a Monja Coen, ao ge (veja no vídeo acima o depoimento exclusivo).

O lado mais descontraído de Abel Ferreira pôde ser visto em um show do humorista Thiago Ventura, palmeirense declarado e que frequenta os jogos do Verdão. O técnico, ao lado da esposa, esteve em um dos shows durante a folga de carnaval.

Homem de poucos sorrisos no exercício da profissão, Abel gargalhou e mostrou ser uma pessoa que gosta do humor brasileiro e explora bastante os hábitos locais. Ter gostado da apresentação também mostra a adaptação do técnico, cada vez mais brasileiro, ao país em que se tornou um especialista em conquistar títulos.



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