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Caso Pedrinho: São Paulo se resguarda juridicamente, e bastidor do clube fica dividido
Uma ala queria o afastamento imediato do jogador acusado de agressão, enquanto outro lado pregava cautela; decisão do atleta acalmou ânimos no Morumbi e CT da Barra Funda
| GLOBOESPORTE.COM / EDUARDO RODRIGUES, JOSé EDGAR DE MATOS E LEONARDO LOURENçO
O São Paulo tem adotado cautela em cada passo dado no caso envolvendo o jogador Pedrinho, acusado pela ex-namorada, Amanda Nunes, de agressão. Desde que a denúncia veio à tona, em publicação do ge, na semana passada, o clube tenta se resguardar juridicamente.
Antes de qualquer afastamento ou atitude mais enérgica, o São Paulo conversou bastante com Pedrinho para entender a situação, e nos dois primeiros dias após as informações se tornarem públicas ele treinou normalmente com o elenco no CT da Barra Funda.
Na sexta-feira à noite, porém, Pedrinho emitiu uma nota nas redes sociais anunciando seu afastamento por livre e espontânea vontade até que o caso fosse resolvido.
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Mas por que o clube já não afastou Pedrinho de imediato ao saber das acusações e esperou que o jogador tivesse tal atitude?
A resposta para isso está no direito. De acordo com advogados ouvidos pela reportagem do ge, uma empresa não pode afastar seu funcionário apenas baseada no Boletim de Ocorrência, sem a apuração dos fatos.
Isso daria margem para o jogador entender que está sendo julgado pela própria empresa (no caso, o próprio São Paulo) e, posteriormente, entrar com um processo contra a instituição.
O São Paulo também se ampara na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz que "toda pessoa acusada é inocente até que se prove o contrário". Já o Artigo 5º da Constituição Federal assegura que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado'.
Por isso que, mesmo afastado, Pedrinho segue treinando no clube e com poucas restrições. No último sábado, por exemplo, fez o aquecimento com todos os companheiros, mas no treino com bola participou das atividades com os não-relacionados do confronto diante do Botafogo-SP, no último domingo.
Para tomar as decisões, o São Paulo buscou exemplos recentes de outros clubes que tiveram de lidar com acusações a jogadores. Mason Greenwood, do Manchester United, acusado de agressão e violência sexual, e Hakimi, do PSG, indiciado por estupro, são alguns casos analisados pelo Tricolor.
O caso envolvendo o goleiro Jean, acusado de agressão à ex-mulher enquanto era jogador do São Paulo, em dezembro de 2019, já foi um grande exemplo para o clube. Jean não teve contrato rescindido e passou a ser emprestado, primeiro para o Atlético-GO e depois para o Cerro Porteño, do Paraguai.
Bastidor dividido
A cautela em tomar atitudes contra Pedrinho deixou o bastidor do São Paulo agitado e dividido. Uma ala do clube era favorável ao afastamento imediato, mas uma outra corrente era a favor de esperar mais dados concretos sobre a acusação.
Enquanto o tempo passava e os detalhes eram noticiados, como um trecho do Boletim de Ocorrência divulgado pelo ge, na semana passada, os ânimos ficavam mais exaltados no Morumbi e no CT da Barra Funda.
A diretoria do São Paulo, em determinado momento, deixou a decisão sobre a utilização de Pedrinho para o técnico Rogério Ceni, que dava sinais de que relacionaria o jogador para enfrentar o Botafogo-SP.
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O pedido de afastamento de Pedrinho no fim da sexta-feira, porém, acalmou a situação e, segundo relatos, "foi bom para todo mundo e na hora certa". Havia muito receio de uma ala do clube sobre o que viria depois de o jogador vestir a camisa do Tricolor em uma partida oficial sob denúncia.
– Acho que a decisão foi tomada em conjunto pela direção e o Pedrinho. A nota do São Paulo pondera tudo, ninguém é culpado antes de ser julgado, e todos concordamos que ninguém concorda com agressões, seja ela de que lado for, inclusive no campo de jogo, não só no pessoal, na vida como um todo – disse Rogério Ceni no último domingo.
Pedrinho deve ser ouvido pela polícia nesta semana. Amanda Nunes, a ex-namorada do jogador, compareceu à 4ª Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher na última segunda, manteve o depoimento do Boletim de Ocorrência e acrescentou detalhes.