Ansiedade generalizada, o medo da vida e o desejo de controle, por Elisabete Castelon Konkiewitz

Autoria: Profa. Dra. Elisabete Castelon Konkiewitz, médica, neurologista e psiquiatra, professora associada da Faculdade de Ciências da Saúde da UFGD.

| INFORMATIVOMS / DOURADOS AGORA


Foto: reprodução

No fundo, no fundo, ansiedade é medo. E assim, o transtorno de ansiedade generalizada corresponde ao medo generalizado, ou seja, uma sensação desagradável de apreensão e insegurança, por vezes mais consciente, por vezes subliminar, porém sempre presente. Em alguns, a experiência é predominantemente psíquica, com preocupações contínuas, insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração e memória; em outros, predominam os sintomas físicos, como sudorese fria, palpitações, “frio na barriga', etc.

Obviamente muitos dos nossos medos são justificáveis, pois, de fato, a vida é imprevisível e em si arriscada. A qualquer momento, podemos sofrer um acidente grave, perder um ente querido, adoecer, fazer um mau negócio, ser envolvidos em litígios judiciais, ser vítimas de assédio, calúnias e difamação, etc. Tudo o que temos e com que nos identificamos pode se perder para sempre num segundo. Lidar com a transitoriedade e fugacidade da vida gera angústia em todos nós e muitas são as formas que usamos para lidar com isso.

Na maior parte do tempo, lutamos para não pensar na nossa condição e buscamos nos distrair com os vários conteúdos do cotidiano. O problema é que, apesar dessa repressão, a consciência dos perigos, riscos e vicissitudes e a consciência da morte persistem.  Nesse contexto, a manifestação da ansiedade pode ser consequência da ilusão de que se conseguirmos ter o controle de tudo, terem mente todas as possibilidades, prevenir todos os reveses, conferir todos os detalhes, a vida deixará de ser perigosa. Assim, ansiedade generalizada se associa a um comportamento inflexível, controlador e perfeccionista.

Tudo aquilo que tem um começo tem um fim.

Faça as pazes com isso e tudo ficará bem'.

Gautama Buddha

É claro que planejar e fazer o melhor de si são necessários para o sucesso dos nossos empreendimentos. O problema está na mente aprisionada pelo perfeccionismo, no medo e nas fantasias catastróficas que paralisam nossas ações e geram tanto sofrimento desnecessário.

O tratamento inclui o uso de medicação, pelo seu efeito rápido que interrompe o círculo vicioso das más experiências que vão se acumulando e aumentando cada vez mais o medo e as convicções negativas. Técnicas de respiração e relaxamento podem auxiliar muito nos momentos de crise, todavia elas precisam ser treinadas intensamente para que possam ser aplicadas quando necessárias. Ainda assim, o transtorno de ansiedade exige uma abordagem mais profunda que envolve a psicoterapia e a espiritualidade. É preciso rever os traumas pregressos, os valores e preconceitos sedimentados, a visão de si mesmo e do mundo.

Superar o transtorno de ansiedade significa aceitar-se a aceitar a vida, tendo a clara visão da transitoriedade de tudo, significa ganhar um distanciamento interno das circunstâncias, significa fazer o seu melhor no presente e entregar os resultados futuros a Deus.

“Espera no Senhor e faze o bem;

habitarás a terra em plena segurança'.  (Salmo 36,3)

 “Em meu quarto, encontrei dentro de um lindo recipiente um naviozinho que trazia o Menino Jesus a dormir, com uma bolinha ao Seu lado. Sobre a vela branca escrevera Celina estas palavras: “Eu durmo, mas o meu coração está de guarda', e sobre a embarcação, esta única palavra: “Abandono!'  –Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face-em História de uma alma.



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