Como o Atlético-MG pagará a dívida de seu estádio? Entenda o planejamento financeiro até 2029

Arena atleticana precisará arcar com R$ 440 milhões em títulos de dívidas e outros R$ 300 milhões em juros. Competitividade do futebol e engajamento da torcida serão decisivos para o negócio

| GLOBOESPORTE.COM / RODRIGO CAPELO


Arena MRV já com 75% pronta na parte interna — Foto: Pedro Souza/CAM

Construído com recursos próprios, o estádio do Atlético-MG deverá ser inaugurado com R$ 440 milhões em dívidas – caso a captação da segunda rodada de investimentos saia conforme previsto. Como a diretoria atleticana espera quitar essas obrigações?

A resposta está no material confidencial que o clube distribuiu a potenciais investidores, ao qual o ge teve acesso. O pagamento da dívida proporcionada pela construção da Arena MRV consumirá receitas do empreendimento e dependerá do sucesso de sua operação.

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O Atlético-MG estima que o estádio terá receita bruta de R$ 114 milhões em 2023. Como a inauguração está programada para março, este valor deverá ser alcançado em aproximadamente nove meses. Em 2024, a expectativa é chegar a R$ 181 milhões em faturamento.

Esses valores consideram todas as receitas da arena, incluindo bilheterias, patrocínios, estacionamentos, lounges, eventos corporativos, locações, sócios-torcedores, cadeiras e camarotes. Em cada uma dessas linhas, a direção atleticana trabalhou com premissas, ou seja, condições.

Para que a arena consiga a arrecadação aguardada em bilheterias, por exemplo, precisará de arquibancadas quase lotadas. Do total de 46 mil lugares, após descontados camarotes, cadeiras, sócios com acesso aos jogos e lounges, haverá cerca de 33 mil tíquetes livres para venda.

As projeções contam que ingressos deverão custar em média 62 reais e com a necessidade de ter, já em 2023, ocupação das arquibancadas superior a 80%. A partir de 2024, a ocupação mínima cai para 75%.

Custos e lucratividade

Caso as estimativas feitas pelo Atlético-MG em relação às receitas estejam precisas, antes do pagamento das dívidas, é necessário considerar os custos da operação do estádio. Incluem-se deduções sobre receitas, manutenção, segurança, limpeza, entre outras despesas do cotidiano.

A previsão é de que a soma de todos os gastos será de R$ 44 milhões em 2023, quando haverá somente nove meses de atividades. Em 2024, com o calendário inteiro, os custos sobem para R$ 57 milhões.

A diferença entre receitas e custos é o que o mercado chama de EBITDA, sigla para resultado antes de depreciações, amortizações, juros e impostos. Trata-se de indicador importante para considerar a viabilidade do negócio. Se este número estivesse negativo, haveria problemas graves.

A última linha, do resultado líquido, mostra a expectativa quando considerados todos esses itens. A Arena MRV deve estrear com prejuízo de R$ 16 milhões em 2023, e depois entrar em uma trajetória crescente de resultados positivos, a começar por lucro de R$ 36 milhões em 2024.

Pagamento da dívida

O Atlético-MG buscou duas linhas de crédito para concluir a construção de seu estádio. A primeira, no valor de R$ 200 milhões, foi levantada em dezembro de 2021. A segunda captação está em andamento neste momento, e nela são esperados mais R$ 240 milhões.

A busca por recursos foi viabilizada por meio da comercialização de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). Investidores colocam dinheiro neles na expectativa de resgatá-los, com juros, após determinado prazo. A garantia de pagamento está no empreendimento.

É por essa razão que as contas da Arena MRV foram abertas para potenciais investidores. Eles checam os números e ouvem as explicações da diretoria atleticana, para ganhar confiança no negócio.

Ambas as operações de crédito têm prazos de carência. O Atlético-MG só começará a pagar os investidores que compraram os certificados a partir de outubro de 2023, nas duas emissões dos certificados.

Do início dos pagamentos até setembro de 2029, data da última parcela, assim como acontece com um cidadão que financia um apartamento no longo prazo, o estádio precisará pagar a dívida e também os juros decorrentes dela – que, em sete anos, somam R$ 302 milhões.

A capacidade de pagamento de juros e dívidas está diretamente ligada à operação do estádio, o que coloca certa pressão sobre dirigentes e executivos atleticanos. A Arena MRV precisará cumprir as expectativas em termos de receitas e lucros para fechar a sua conta no azul.

Hoje, a despeito da insatisfação com o aluguel do Mineirão, o clube pode usar os seus ganhos com bilheterias e sócios-torcedores no carro-chefe, o futebol. A partir do momento em que parte dessas receitas for direcionada para o caixa da arena, haverá um impacto nas finanças.

O Atlético-MG será desafiado a manter o futebol competitivo e a torcida engajada, enquanto paga a construção de seu estádio. A operação também está exposta ao cenário político e econômico brasileiro, no qual taxas de juros variam constantemente, durante toda a década de 2020.

@rodrigocapelo



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