Esportes
Casos de racismo no futebol brasileiro em 2022 igualam número de todo o ano passado
Os dados foram divulgados durante o Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, neta segunda-feira, na sede da CBF
| GLOBOESPORTE.COM / MARTíN FERNANDEZ, RAPHAEL ZARKO E RONALD LINCOLN JR.
Durante o Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, nesta quarta-feira, na sede da CBF, no Rio, foi divulgado o Relatório Anual de Discriminação Racial referente ao ano de 2021 - além de casos de preconceito contra raça, também contabilizou manifestações de machismo, homofobia e xenofobia no esporte. O levantamento aponta que cresceu o número de manifestações de intolerância no esporte em relação a 2020.
O ano de 2021 contou com o retorno dos torcedores às arquibancadas depois das restrições ocasionadas pela pandemia de Covid-19. E, consequentemente, notou-se o aumento dos atos discriminatórios.
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Só no futebol, a alta de casos de racismo foi de 106% - em 2020, foram registrados 31, contra 64 de 2021. De acordo com Marcelo Carvalho, diretor do Observatório de Discriminação Racial, a conta de casos de racismo no futebol brasileiro até agosto deste ano chegou a 64. Ou seja, igualou o patamar de 2021. Há uma tendência de novo aumento para 2022.
- A gente está aumentando o debate e tendo maior conscientização dos torcedores e jogadores. Em 2022 e 2021, muitos casos divulgados foram denunciados por jogadores. Cada vez mais os jogadores estão entendendo que ser xingado de macaco dentro de campo por colegas ou pela torcida não faz parte do futebol - comentou Marcelo Carvalho, diretor do Observatório de Discriminação Racial.
Ao todo, em 2021, foram registrados 158 casos de discriminação. Desses,124 ocorreram no meio do futebol e 34 em outros esportes.
As informações foram apresentadas diante da plateia formada por dirigentes e funcionários da CBF, Conmebol, federações estaduais e dos clubes, além de personalidades negras como Gilberto Gil, Antônio Pitanga, ativistas, políticos e jornalistas.
Discriminações no futebol (Brasil + Exterior)
Xenofobia: 10Machismo: 15Racismo: 74LGBTfobia: 25
Divisão de casos no futebol do Brasil
Racismo: 64LGBTfobia: 24Machismo: 15Xenofobia: 06
Divisão de casos no futebol do exterior (2021)
Racismo: 10LGBTfobia: 01Xenofobia: 04
Entre os casos de maior repercussão de 2021 está do meia Celsinho que defendia o Londrina. O jogador acusou um dirigente do Brusque de chamá-lo de macaco. Na primeira instância do STJD, a equipe catarinense chegou a ser multada e perdeu três pontos na Série B. Mas, no Pleno no Tribunal, a perda de pontos foi revogada, a multa foi mantida e o dirigente foi punido com 360 dias fora do futebol.
As vítimas são diversas: desde jogadores e jogadoras, passando por treinadores, membros da comissão técnica, funcionários dos estádios e torcedores. Igualmente é variada a origem dos algozes. Também são torcedores, jogadores, dirigentes e até integrantes da imprensa.
- Quando iniciamos a elaboração do relatório, lá em 2014, tinha-se a ideia de que o racismo no futebol brasileiro eram apenas casos isolados, não algo estrutural. De lá para cá, a gente consegue assegurar para a sociedade que não, os casos de racismo não são esporádicos e eles não são isolados, eles acontecem com muita frequência. Quando a gente traz os dados e os desdobramentos desses casos, a gente está mostrando, por exemplo, se houve punição ou não - disse Marcelo Carvalho.
O relatório completo está disponível no site do Observatório de Discriminação Racial no Futebol.