Leila fala de finanças do Palmeiras, promete manter base para Abel e defende gestão: "Sou destemida"

Presidente do Verdão fez um balanço sobre a situação do clube, respondeu sobre os pedidos de biometria para acesso na arena, críticas ao marketing e decisão de não vender principais atletas

| GLOBOESPORTE.COM / EMILIO BOTTA, FELIPE ZITO E THIAGO FERRI


Leila Pereira diz que Palmeiras vai criar camisa popular

Presidente do Palmeiras desde dezembro, Leila Pereira diz que "nasceu para ser dirigente de futebol".

À frente do atual líder do Brasileirão, semifinalista da Libertadores e já campeão da Recopa e Paulistão, a mandatária falou ao ge sobre os principais temas que envolvem sua gestão.

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Leila explicou a decisão de antecipar as receitas previstas no contrato com a Crefisa até o fim do primeiro semestre de 2023, saiu em defesa do departamento de marketing, criticado por parte da torcida, explicou por que não será possível usar a biometria no acesso do Avanti no Allianz Parque.

Ainda que admita que algumas de suas decisões não sejam populares, a presidente diz que não se incomoda com a repercussão, por acreditar no que tem feito.

– Eu faço o melhor para o Palmeiras. Sou destemida, não tenho medo de nada, de crítica nenhuma.

A presidente também reforçou a posição de não vender os principais jogadores, apesar do problema que o clube tem no fluxo de caixa:

– Jamais vou prejudicar o esquema que o Abel tem em mente.

Confira a entrevista completa com Leila Pereira:

ge.globo: Leila, o que mudou de quando você era uma patrocinadora e conselheira para presidente do Palmeiras? Qual o balanço que faz da gestão?

Leila Pereira: Parece que eu nasci para ser dirigente de clube de futebol. Estou totalmente à vontade, aqui, na FPF, na CBF. Eu transito de forma muito confortável. Às vezes me incomoda até certo ponto as críticas, mas sou resolvida com isso, não esquento. Uma coisa é o que se lê em redes sociais e outra é o que eu presencio com o torcedor.

– O relacionamento do torcedor de carinho comigo é emocionante, a gratidão que o torcedor tem, por todo o trabalho que eu tenho desde patrocinadora. A gente lê em redes sociais e até por jornalistas, umas coisas sem pé nem cabeça, infundadas. Às vezes vejo na TV falando que eu disse algo que não falei. Isto me deixa chateada, eu faço o melhor para o Palmeiras.

– Sou destemida, não tenho medo de nada, de crítica nenhuma. Faço o que precisa ser feito. Este precisa ser o caminho do futebol. Se todos os outros clubes adotassem essa linha, com clareza, objetividade, o futebol brasileiro não estaria nesta situação.

Se o time tem conseguido grandes resultados e convive com grande apoio da torcida, há críticas de parte dos palmeirenses especialmente em relação ao marketing. Qual sua avaliação do departamento?

– Aumentamos a receita, o número de Avanti. Quando entrei, eram 41 mil sócios, agora dobramos o número e ele cresce a cada dia. No YouTube fomos o segundo em visualizações na América. Tudo na nossa gestão aumentou de uma forma astronômica. Nossos seguidores felizes com as nossas postagens. Não sei o porquê das críticas.

– Uma das grandes reclamações dos torcedores em anos anteriores é de que o marketing era muito passivo. E era. O grande patrocínio que o Palmeiras tinha era a Crefisa e FAM, e não foi o Palmeiras que buscou. Eu, como presidente das empresas, sei melhor do que ninguém de que eu busquei o Palmeiras.

– Nunca vi no marketing da gestão anterior nenhuma atitude pró-ativa. E isto me incomodava muito, mas como nunca tive nenhum cargo na gestão anterior... o presidente precisa gerir o clube como achar melhor. Mas quando entrei, foi a primeira coisa que eu mexi, porque acho o marketing extremamente importante.

O marketing foi possivelmente o departamento que teve mais mudanças na sua gestão. Qual foi sua ideia quando escolheu este caminho?

– Marketing não é apenas para valorizar a marca, mas também para trazer receitas para o clube. Para ter um time competitivo, preciso de investimento, de dinheiro. Tinha um profissional que trabalhava no Palmeiras, que não era formado em marketing, era engenheiro pela informação que tive no clube (o ex-diretor remunerado Roberto Trinas). E substitui algumas pessoas que trabalhavam no dia a dia.

– Chamei para trabalhar comigo uma pessoa que conheço há bastante tempo, o Everaldo (Coelho da Silva, diretor estatutário). Ele é conselheiro do Palmeiras e um ex-executivo de banco, formado em administração de empresas, com mestrado em marketing. O superintendente Eduardo é formado em Educação Física e trabalha há 25 anos com gestão esportiva.

– Mudamos pessoas para deixar o departamento mais ágil para buscar receitas. O objetivo do nosso marketing é esse: trazer novas receitas e valorizar cada vez mais nossa marca.

O clube diz que conseguiu R$ 54 milhões em novas receitas com marketing. Pode detalhar quais são?

– Uma parte destes R$ 54 milhões veio de patrocínio do futebol feminino. A Crefisa e FAM são patrocinadoras do futebol do Palmeiras, não diz no contrato se é masculino, feminino ou base. São todas (as categorias).

– Algumas pessoas me criticavam pelo conflito de interesse de ser patrocinadora e presidente, mas abri mão como presidente da Crefisa do máster do futebol feminino, sem reduzir o contrato com o Palmeiras para a Betfair ser a máster. Quase R$ 8 milhões neste patrocínio. E agora tem também o Cartão de Todos, mais alguns milhões.

– Estamos monetizando nossas redes sociais, são mais receitas para o clube. Estamos segmentando a nossa busca por novas receitas. Nosso foco é: trazer novas receitas para o clube, que anteriormente não tinha.

– Em vendas online, crescemos 102% pelas lojas do Palmeiras na minha gestão. Receita com licenciamento crescemos 67% nestes seis meses. O antigo departamento de marketing não se mexia para aumentar as fontes de receita. As escolinhas de futebol que temos, houve um crescimento de 50%. São R$ 54 milhões em seis meses e estamos em busca de outros parceiros.

Se alguma empresa quiser negociar uma área do uniforme do time masculino, é possível a Crefisa ou FAM abrirem mão de alguma das propriedades por mais receitas, também?

– Já tivemos propostas. Mas hoje temos um valor de contrato de patrocínio com o futebol que ainda é um valor muito significativo, pode chegar a R$ 120 milhões por ano, dependendo da performance do Palmeiras (Nota da Redação: o valor fixo é de pouco mais de R$ 80 milhões por ano, podendo chegar aos R$ 120 milhões com premiações por conquistas). Se tiver uma empresa que ofereça um valor maior do que a FAM e Crefisa aportam, sem dúvida nenhuma (aceita).

– O que eu não posso é retirar, por exemplo, a FAM da barra, entrar um aporte do patrocinador, e continuar pagando o mesmo valor. Não está correto. Para um patrocinador entrar, precisaria diminuir o valor que nossas empresas aportam.

– Isto que às vezes as pessoas não entendem. Que vou continuar pagando R$ 120 milhões, mas tiro a barra e máster para acrescentar. Aí não dá. Quero colaborar com o Palmeiras, mas sou presidente de uma empresa que tem outros diretores. Somos um banco. Existem reguladores que vão me questionar.

– Eu tenho contrato até 2024, quando formos renovar o contrato, podemos até conversar sobre novas parcerias. Mas precisam ser significativas para o Palmeiras, levando em conta que nosso patrocínio, na pandemia, com jogos suspensos, com vários meses sem exposição, a Crefisa e a FAM em nenhum momento reduziram o valor investido no Palmeiras. Eu digo que não é um patrocínio, é uma parceira que nossas empresas possuem com o Palmeiras.

Como ficou a relação entre as diretorias de Palmeiras e Crefisa depois da sua eleição? Quem responde pela patrocinadora?

– Eu não assino qualquer documento com o Palmeiras pela Crefisa, só pelo Palmeiras. Na Crefisa temos outros diretores, meu marido (o conselheiro José Roberto Lamacchia) é dono e ele pode assinar, outros diretores podem assinar.

– Mas são poucas coisas no dia a dia entre Crefisa e Palmeiras. O relacionamento comercial é só em relação ao patrocínio, as outras que temos é uma liberalidade minha. Por exemplo: finais de semana às vezes organizamos eventos dentro do Palmeiras. Quem paga isso sou eu, Leila Pereira. Não é o associado, não é a Crefisa, sou eu.

Nos últimos meses, o Palmeiras pediu o adiantamento das receitas relacionadas ao patrocínio do segundo semestre de 2022 e primeiro semestre de 2023. Neste caso, você participou de que forma das conversas?

– Houve (o adiantamento) entre Crefisa e Palmeiras. Fizemos dois, que fui questionada inclusive na última reunião do COF de que isto é empréstimo, mas não é. Estou adiantando um valor que já era do Palmeiras. Quem assinou estes contratos, um dos adiantamentos foi feito com outro banco e outro com a Crefisa. Este feito pela Crefisa fui eu quem assinou pelo Palmeiras, e pela Crefisa foram diretores da empresa.

– Eu precisei fazer os adiantamentos, porque temos problemas de fluxo de caixa. Herdei compromissos que precisam ser honrados e tenho de fazer investimentos em atletas, readequações de salários de atletas. Preciso ter um time competitivo, nada é mais importante para nós do que a conquista de títulos. Trabalhamos para isso, com responsabilidade. Adiantei valores da minha gestão.

E como será feito para recuperar estes valores antecipados?

– Eu preciso repor, e como repor? Novos investimentos com patrocinador, com premiação por conquistas de títulos e venda de atletas. Trabalhamos nestas frentes, levando em conta que não negocio nossa espinha dorsal. Para vender, preciso falar com o técnico. Jamais vou prejudicar o esquema que o Abel tem em mente para cobrir problemas de caixa. Tenho de conversar com ele antes de negociar qualquer jogador, precisa estar alinhado. Nossa prioridade é a conquista de títulos.

Desde o início de sua gestão, o marketing não tem um diretor remunerado. Você vai contratar um líder para esta pasta?

– Vai continuar assim, não penso em contratar ninguém de mercado, porque o que eu tenho, com o Everaldo, o diretor estatutário, ele tem todos os colaboradores com vasta experiência no marketing e eu estou ao lado. Estou extremamente feliz e tem que agradar à presidente, porque eu fui eleita para representar o Palmeiras.

Por que você decidiu não contratar alguém do mercado para o marketing e por que a escolha pelo Everaldo como estatutário?

– Eu achei que não tinha necessidade (de um diretor remunerado). Conheço o Everaldo do mercado há bastante tempo, por trabalhar em banco e nós na Crefisa. Não adianta eu pegar um profissional do marketing, famoso, mas sem o espírito que preciso no Palmeiras. Eu e o Everaldo não fazemos criação.

– Nós comandamos, e o que nós sabemos é buscar parceiros para investir no Palmeiras. Este perfil de profissional que eu quero, que pode sentar comigo em qualquer emissora a respeito de direitos de transmissão. Quero isso. Se sentisse a necessidade, pode ter certeza que eu buscaria. Se achasse que as pessoas que estão comigo não fazem um trabalho correto, não estariam comigo.

Desde que assumiu como presidente, muitos a classificam como centralizadora.

– Até certo ponto, sim. Sou presidente do Palmeiras. O que sai publicado, que não seja de uma forma positiva para o clube, vai afetar a minha gestão. Então claro que eu tenho de dar sugestões. E aqui é muito rápido, as pessoas não marcam reunião comigo, batem na porta e entram.

– Eu não sou centralizadora, a criação é do departamento de criação e marketing, mas eu quero ser a última palavra. E sempre que me mostram, estou muito orgulhosa do nosso marketing. E vejo pelos comentários nas redes, o torcedor também está feliz.

– Sou eu que estou exposta. Quando atacam meus profissionais, atacam a minha gestão. Eu tenho muita certeza do que eu faço, estou diariamente no Palmeiras, abri mão do dia a dia nas minhas empresas. Este período no Palmeiras é curto e intenso e estou dedicada full-time. Fico bastante tempo na Academia de Futebol e duas vezes por semana fico no clube social, atendendo conselheiros e quem quer falar comigo.

– Não tenho medo de clamor do público, sei que estou fazendo o melhor para o Palmeiras, não tenho medo de perder voto.

– Qualquer pessoa que esteja aqui e quer falar com a presidente, bate na porta e entra na hora. Se não sei a resposta, peço algumas horas para pensar. As coisas estão correndo muito bem, o torcedor tem que ter muito orgulho do trabalho que todos os profissionais desempenham no Palmeiras. Com a certeza que se a presidente detectar algum problema, vai sair. Não vai ficar.

Em meio ao crescimento do número de associados no Avanti, muitos torcedores têm reclamado da dificuldade de comprar ingressos por conta de cambismo. Usar a biometria para acessar o Allianz Parque é o caminho para resolver este problema?

– A biometria depende de um investimento de milhões para mudar todas as catracas. Hoje não temos... a solução seria essa, não tenho dúvida. A questão do cambismo passa muito pelo poder público. Ficam ao redor do Allianz Parque diversos cambistas, eu nunca vi ninguém ser preso.

– Nós mesmos já denunciamos um problema de cambismo com ingressos do patrocinador, vocês viram, foi noticiado. Quem foi punido? Ninguém. A impunidade é a semente do próximo crime.

– Precisa o poder público punir este tipo de gente, e torcedor não comprar ingressos de cambistas. Quando tem procura, tem oferta. Não pode jogar a responsabilidade toda no clube. Não posso controlar ação de bandido, é a polícia.

Então para a senhora não há o que o clube fazer quanto a isso?

– Não. Temos um controle até determinado ponto quanto a compra de ingressos do Avanti. Quando vemos um movimento suspeito, a gente derruba. Este tipo de policiamento a gente faz. Mas não é possível controlar toda a operação. No momento é o que podemos fazer, ver atitudes suspeitas e derrubar.

E o setor popular no Gol Norte, ainda depende do acerto entre Palmeiras e WTorre na arbitragem?

– Isto está parado, porque estamos em fase final de conversação da arbitragem, um conflito que existe entre Palmeiras e WTorre. E ao finalizar esta arbitragem, o setor popular, que é muito interessante, a gente consegue resolver. Mas está no nosso radar.

No fim da gestão passada foi anunciado o fan token, mas não houve mais notícias sobre. Qual o estágio deste projeto?

– Parado, não foi em minha gestão. A empresa optou por não lançar agora, não foi o Palmeiras, foi a própria empresa. Nem estou gastando muita energia neste projeto, porque a própria empresa quis recuar.

E quanto à Puma. Houve reclamação do Palmeiras com a parceira?

– Temos contrato com a Puma até 2024, em vigor. Não se cogitou haver rescisão neste contrato. O que houve, sim, foram várias reclamações dos torcedores de irem às lojas e não encontrarem nossas camisas para comprar. Isto eu acho um absurdo. O Palmeiras em uma fase maravilhosa, onde o torcedor quer ficar mais próximo da ida aos jogos, comprando a camisa. O clube ainda recebe royalties por venda de camisas. Era um prejuízo.

– Houve uma reclamação, isto me incomodou demais, chamei o presidente da Puma, conversamos bastante para resolver este problema, em breve teremos outra reunião para mostrar um cronograma para resolver este problema definitivamente.

O valor dos uniformes também tem sido motivo de reclamação, por considerarem caro demais.

– É outra questão que me incomoda o valor da camisa, falei bastante com a Puma para fazermos uma camisa popular, para que qualquer torcedor possa adquirir.

– Não sei se eu consigo, e a Puma também, reduzir a um valor que o torcedor deseja. Estamos estudando isso. Em contrapartida, temos as camisas licenciadas, com valor muito acessível, que o torcedor pode adquirir, de R$ 50 ou R$ 60. Não conseguimos fazer camisa de jogo por este valor. É algo que incomoda, mas não conseguimos resolver.

Qual a maior dificuldade que encontrou até aqui como presidente?

– O Palmeiras está cada vez melhor, a cada dia a gente aprimora ainda mais os métodos, princípios, processos. Uma das grandes dificuldades que eu estou tendo, mas estamos caminhando, é mudar a cultura. Que o Palmeiras tem que proporcionar alguma benesse para as pessoas, mas é o contrário.

– Estamos aqui para trabalhar para o Palmeiras. O clube cada vez maior é melhor para todos. Tem de mudar esta cultura. Estou administrando um patrimônio que não é meu.

– Até tirar isso da cabeça das pessoas, de que o Palmeiras não tem dono. As pessoas se acham donas do clube. Precisa ser dono então na hora positiva e negativa, na hora de pagar as contas, mas ninguém quer. Esta mentalidade que algumas pessoas têm que estamos tentando mudar, para o Palmeiras ser administrado realmente de forma profissional.

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