Esportes
Séries A e B do Brasileiro não têm nenhum técnico nordestino em atividade; veja lista por estado
Roberto Fernandes, demitido do Náutico, foi o último remanescente; ranking tem dez paulistas, sete paranaenses, cinco cariocas e mineiros, quatro gaúchos, um capixaba e um goiano
| GLOBOESPORTE.COM / RAFAEL CABRAL E JOãO DE ANDRADE NETO
Entre os quarenta treinadores em atividade nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro, não há nenhum nordestino. O levantamento feito pelo ge aponta que as regiões sudeste e sul concentram a maior parte dos profissionais atuando na elite do mercado e constata o aumento de participação de estrangeiros no futebol brasileiro.
Telê é eleito o maior técnico da história do futebol brasileiroRotatividade dos técnicos; veja página especial
A lista dos técnicos nas Séries A e B tem dez paulistas, sete paranaenses, cinco cariocas, cinco mineiros, quatro gaúchos, um capixaba e um goiano, além de sete treinadores de outros países. O norte do país também não é representado por nenhum nome.
O último remanescente do nordeste, o pernambucano Roberto Fernandes, foi demitido pelo Náutico há duas semanas e substituído pelo paulista Elano Blumer. Outros dois nordestinos com presenças recentes na elite, o pernambucano Dado Cavalcanti e o baiano Marcelo Chamusca, estão desempregados.
Opiniões dos envolvidos
Roberto Fernandes, Dado Cavalcanti e Marcelo Chamusca, técnicos nordestinos que habitam nos mercados das Séries A e B, foram ouvidos pela reportagem do ge, para comentar sobre as dificuldades em "furar a bolha" do cenário da elite do futebol brasileiro.
Roberto Fernandes entende que existe uma exigência maior com a performance do técnico nordestino, por identificar que caso o trabalho não seja bom, a chance de voltar a ser lembrado numa Série A é pequena.
- Não é falta de capacidade. Temos grandes treinadores no Nordeste, mas que infelizmente, as oportunidades são poucas, e quando ocorre, é como se fosse a única da vida. Se você não fizer um trabalho de excelência, dificilmente volta a ter oportunidade - explicou.
Acompanhe a rotatividade dos técnicos do futebol brasileiro
O treinador pernambucano teve duas oportunidades na Série A, na carreira: pelo Náutico, em 2007 e 2008, e pelo Athlético-PR, em 2008. Recentemente, em entrevista ao podcast Embolada (escute acima na íntegra), o técnico se comparou a Fernando Diniz, afirmando que o comandante do Fluminense não tem os títulos que ele tem, e recebe muitas oportunidades na Série A.
Marcelo Chamusca, técnico baiano com quatro acessos na carreira - por Salgueiro, Guarani, Ceará e Cuiabá - está desempregado há pouco mais de um mês. O treinador considera que primeiro é necessário mudar o cenário local, para depois pensar no nacional.
- Se os treinadores locais não tiverem oportunidade nos clubes dos seus estados, dificilmente vão conseguir trabalhar na Série A ou B. Se a gente conseguir mudar o cenário local, o nacional vai ser mudado. É uma cultura enraizada de os clubes buscarem técnicos do sul e sudeste, que tem uma visibilidade maior e um retorno de mídia. É uma concorrência desleal - disse.
Carrossel dos técnicos: estudo revela como dirigentes contratam e demitem treinadores no Brasil
Já Dado Cavalcanti acredita que a situação de momento é circunstancial, mas lembra que, historicamente, o Nordeste pouco conseguir "exportar" treinadores.
- Eu acho que é uma coincidência de momento, não termos técnicos nordestinos nas Séries A e B. Historicamente, o nordeste nunca teve tantos técnicos trabalhando na elite, não estamos fugindo à regra.
- Mas posso afirmar que nunca me apequenei em relação a isso. Possuo DDD 081, e nunca me apequenei perante ao mercado.
O pernambucano Dado Cavalcanti tem como títulos mais importantes na carreira a Copa do Nordeste de 2021 pelo Bahia e a Copa Verde pelo Paysandu, por duas vezes, em 2016 e 2018. Está sem clube desde o início deste mês, quando foi desligado do Vila Nova.
Dificuldades sociais
Para o comentarista Cabral Neto, há um problema sistêmico de condições desiguais, sociais e econômicas, que prejudicam carreiras e avanços de profissionais nordestinos. No entanto, é importante considerar o sentimento de "falta de espaço" que o povo do Nordeste tem. (Veja o vídeo abaixo)
- Existe um sentimento que o nordestino tem, que é de falta de espaço, de reconhecimento nacional. Não é um sentimento único, e sim de uma população inteira. E quando 60 milhões de habitantes se sentem assim, alguma coisa está errada, na forma como somos vistos, encarados e temos abertura para mostrar o talento que existe nessa região. Nenhum clube, abertamente, deixa de contratar um técnico por ser nordestino. Porém, as dificuldades que são impostas na vida, por esquema social, faz com que haja um número menor de pessoas trabalhando.
O "censo" dos técnicos no Brasil:
São Paulo:
Vágner Mancini (América-MG)Maurício Barbiere (Bragantino)Dorival Júnior (Flamengo)Marquinhos Santos (Ceará)Daniel Paulista (CRB)Rafael Guanaes (Novorizontino)Bruno Pivetti (Tombense)Claudinei Oliveira (Sport)Elano Blumer (Náutico)Carlos Pimentel (Ituano)
Paraná:
Rogério Ceni (São Paulo)Cuca (Atlético-MG)Alan Aal (Vila Nova)Cláudio Tencati (Criciúma)Mozart (Guarani)Adílson Batista (Londrina)Matheus Costa (Operário)
Rio de Janeiro:
Eduardo Barroca (Avaí)Jair Ventura (Goiás)Jorginho (Atlético-GO)Marcelo Cabo (Chapecoense)Emílio Faro (Vasco - Interino)
Minas Gerais:
Fernando Diniz (Fluminense) Hélio dos Anjos (Ponte Preta) Alberto Valentim (CSA) Léo Condé (Sampaio Corrêa) Enderson Moreira (Bahia)
Rio Grande do Sul:
Mano Menezes (Internacional)Luiz Felipe Scolari (Athlético-PR)Lisca (Santos)Roger Machado (Grêmio)
Espírito Santo:
Umberto Louzer (Juventude)
Goiás:
Luan Carlos (Brusque)
Estrangeiros
Abel Ferreira (português) - PalmeirasVítor Pereira (português) - CorinthiansLuís Castro (português) - BotafogoAntônio Oliveira (português) - CuiabáJuan Pablo Vojvoda (argentino) - FortalezaGustavo Morínigo (paraguaio) - CoritibaPaulo Pezzolano (uruguaio) - Cruzeiro